Por: Jéssica Lima e Stefanny Azevedo – EJ BRAVA

Aconteceu nos dias 25 e 26 de outubro, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), a Semana de Jornalismo 2018, que neste ano teve o tema “Novas linguagens, novos dilemas”. O evento ocorre anualmente com o envolvimento de acadêmicos e docentes por meio de palestras, debates e oficinas. Além de simbolizar o aniversário de 29 anos da criação do Curso de Jornalismo na instituição, a semana acadêmica trouxe para o centro das discussões as novas configurações do cenário de atuação dos jornalistas e a necessidade de senso crítico dos profissionais frente a essas modificações.
A mesa de abertura contou com a participação da vice-reitora da UFMS, professora Camila Ítavo, da diretora da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação, professora Vera Penzo, do coordenador do Curso de Jornalismo, professor Mario Luiz Fernandes, e do coordenador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, professor Gerson Luiz Martins, além do coordenador do evento, professor Marcos Paulo da Silva, da presidente do Centro Acadêmico de Jornalismo, Amanda Raíssa, representando os demais acadêmicos, e da jornalista Tainá Jara, representando o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindjor-MS).
Além de duas palestras, a Semana de Jornalismo 2018 contou nos dois dias de evento com oficinas e debates abertos ao público sobre temas diretamente relacionados à atuação profissional dos jornalistas, como infografia, jornalismo esportivo e o futuro do jornal impresso. Também foram apresentadas oficinas com temas complementares à formação acadêmica, como marketing de conteúdo, criação de charges e oratória.
A respeito da mobilização para a realização do evento, a presidente do Centro Acadêmico, Amanda Raíssa, destacou o envolvimento dos alunos na união da comemoração do aniversário do curso com a realização de debates variados, trazendo para a Universidade convidados que pudessem contribuir para a geração de conhecimentos sobre o tema proposto. “O tema foi sugerido pelos professores Marcos Paulo e Katarini Miguel e todos do Centro Acadêmico concordaram de imediato, já que a vida do jornalista hoje é essa: qual linguagem usar e os dilemas que ela implica”, destacou a acadêmica do quarto semestre de Jornalismo.
Os impactos na produção jornalística
A primeira palestra do evento teve o tema “Novas linguagens, novos dilemas: os impactos na produção jornalística” e dialogou diretamente com os aspectos positivos e negativos da inserção de novas tecnologias no cenário atual na produção de informações, principalmente no contexto da internet. “O jornalista está sendo visto cada vez mais como um agente político e não como trabalhador”, destacou o professor Marcelo Träsel, palestrante na manhã do primeiro dia da Semana de Jornalismo.
Ao longo de sua fala, o diretor da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) debateu sobre o processo latente de desinformação na qual a produção e o compartilhamento de notícias falsificadas têm fundamental participação. Nesse contexto, segundo Marcelo Träsel, a desinformação constitui-se uma arma de guerra comunicacional. Configura-se, assim, um cenário no qual há o questionamento do jornalismo enquanto mediador da informação.
Além disso, a palestra explicitou o papel do jornalista frente aos dilemas desse novo contexto, a exemplo dos procedimentos de checagem de informação e da investigação intensiva das informações enunciadas. De acordo com Träsel, há uma contaminação social que se sobrepõe à capacidade da realização do melhor julgamento por aqueles que recebem informações de maneira massiva. Nesse sentido, o palestrante trouxe para a reflexão a atual autoridade do jornalista, além de enumerar os fatores que contribuem para a formação do cenário contemporâneo de disseminação da desinformação.
Marcelo Träsel, que também é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ressaltou a importância de eventos como a Semana de Jornalismo que proporcionam uma troca produtiva entre alunos e professores de graduação. O pesquisador comentou sobre seu papel como diretor da ABRAJI na contribuição para o ensino das boas praticas. “Acho importante como professor, mas também como diretor da ABRAJI, vir falar com os estudantes e apresentar essas ideias e esses pontos de vista, pois faz parte do nosso papel de disseminar os resultados das pesquisas, disseminar a visão dos princípios que a ABRAJI defende, no caso, a de defesa da liberdade de expressão, do jornalismo de qualidade e também o pilar da educação: ensinar boas práticas, fazer discussões que permitam melhorar a qualidade e defender o jornalismo investigativo e o jornalismo de uma maneira geral aqui no Brasil”, relatou Träsel.
Ao final da palestra, abriu-se o espaço para o debate com a participação dos acadêmicos, mestrandos e docentes do Curso de Jornalismo. Estiveram também presentes representantes do movimento “Jornalistas pela Democracia-MS”, que além de reforçarem o papel do posicionamento do jornalista frente a questões políticas e sociais latentes no âmbito atual, lembraram o aniversário da morte jornalista Vladimir Herzog, assassinado em outubro 1975.
Durante as discussões, o professor Marcos Paulo da Silva, mediador da palestra, reforçou o papel dos jornalistas na defesa das minorias. “Defender as minorias não é uma posição política, mas uma postura presente no Código de Ética dos Jornalistas, trata-se de uma posição profissional”, afirmou, reforçando o caráter de pluralidade que deve ser assumido pela produção jornalística. O professor destacou ainda que a autoridade do jornalismo só será resgatada quando as pessoas se derem conta de que precisam desta atividade social para sobreviver, o que fez o jornalismo ser entendido como um bem público.
A respeito da realização da Semana de Jornalismo, Marcos Paulo reforçou seu caráter como elemento constituinte da identidade do Curso, visto que além de celebrar sua fundação, faz parte da formação de alunos que hoje ocupam espaços relevantes dentro do Jornalismo. “Aproveita-se a ocasião da Semana para colocar em discussão temas que são latentes em seus momentos, conciliando então a natureza histórica com a contemporânea a partir de temas que possuem debates necessários”, comentou o professor. Nesse sentido, o coordenador do evento ainda ressaltou que a temática “Novas linguagens, novos dilemas” ilustra o cenário no qual o país presencia a crise da legitimidade da imprensa tradicional e a disseminação em massa de desinformação.
No encerramento da programação do dia 25 de outubro, os alunos ainda puderam se confraternizar em um “Show de talentos” conduzido no período noturno por integrantes do Centro Acadêmico. Entre as apresentações, tiveram destaque desde declamações de poesias até músicas de gêneros variados, acompanhadas pela animação e canto dos acadêmicos presentes.
No segundo dia de evento, a palavra de abertura foi realizada pelo Coordenador do curso de jornalismo professor Mário Luiz Fernandes, que em sua fala relembrou os caminhos que o ensino deve seguir para se adaptar às novas linguagens, dilemas e desafios discutidos pela Semajor. “Os alunos devem se colocar como protagonistas nesse processo”, salientou ele.
Impactos no ensino de jornalismo
A segunda palestra da Semana de Jornalismo foi proferida pelo presidente da ABEJ (Associação Brasileira de Ensino de Jornalismo), Marcelo Bronosky. Em seu discurso, uma definição do próprio jornalismo foi apresentada como elemento introdutório para a discussão. Na visão de Bronosky, o jornalismo deve ser visto como uma atividade social e de impacto público. O palestrante também procurou enumerar os impactos da inserção da tecnologia na determinação do imaginário social. “Diante da contemporaneidade, é preciso falar do jornalismo como uma atividade profissional dentro de uma trajetória histórica, ou seja, ele não surgiu ontem”, reforçou.
Marcelo Bronosky, que também é professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), apresentou uma discussão sobre a responsabilidade social do jornalista, além de considerar essencial que a própria estrutura de ensino seja capaz de oferecer habilidades e competências para que possa garantir autonomia aos futuros profissionais. O palestrante ainda reforçou as características que em sua opinião norteiam a atual produção jornalística, como a velocidade acelerada acompanhada pelo imediatismo das redações.
Bronosky ressaltou como deve ser papel do ensino no preparo da nova geração de jornalistas diante das novas linguagens e dilemas. “Tratando essas mudanças de transformações de forma critica, reconhecendo-as e localizando-as dentro de um processo histórico e a partir dessas identificações e reconhecimentos, traduzir e operar tecnicamente na oferta de habilidades aos estudantes do manejo dessas linguagens”, esclareceu.
Acompanhar as transições e alterações nas possibilidades do fazer jornalístico, seus pontos positivos e negativos, remete à possibilidade de novas formas de narrativas, além da reconfiguração do papel dos profissionais frente às novas linguagens e dilemas – tema do evento. Para a professora Rafaella Peres, formada em design e professora de Planejamento Visual no Curso de Jornalismo da UFMS, há uma mudança no ato de compartilhar a informação, visto que antes tal possibilidade era associada apenas ao texto. Segundo a docente, soma-se a isso o impacto do visual. Nesse sentido, o design deve gerar uma reflexão produtiva, uma vez que há uma grande tendência em áreas de conhecimento distintas que se complementam. No caso do Design e do Jornalismo, cria-se a ideia do “pensar visual”, remetendo à possibilidade de se criar conteúdos já pensando nas formas de sua apresentação.