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Opinião 103

De: Greve da educação

Para: Queridas, queridos e querides estudantes


Venho até aqui, por meio desta carta, fazer um apelo a vocês. Fiquei sabendo que temem a mim e disseminam lorotas a meu respeito. Acredito que a primeira impressão foi de surpresa, porque poucos de vocês me conheciam ou mesmo prestavam atenção, principalmente, nas condições dos técnicos e das técnicas da universidade que frequentam. Isso fez com que surgissem dúvidas, em como vocês são afetados e afetadas, o que deveriam fazer, que posição tomar, de que lado ficar, ou como ajudar. Houve especulações de quem me apoiaria e quem não. Eu observei suas angústias e frustrações.

Vocês não entendiam o que estava acontecendo, e isso causou uma onda de desinformação, seja por confusão ou mau caratismo. Nas assembleias, poucos de vocês que compareciam, queriam falar e ser ouvidos, às vezes sem mesmo entender de fato o movimento a que estavam se referindo. “Não vamos nos formar”; “vou perder minha bolsa”; “minha pesquisa vai acabar”; “terei aula nas férias”, foram algumas das colocações. Esse pânico, ao mesmo tempo que me entristece, me revolta. Então, quero lhes contar sobre mim, porque e desde quando estou aqui. E quero lhes dizer, também, que podem confiar em mim.

Para vocês me conhecerem melhor, começo fazendo alguns esclarecimentos. Primeiro, os sindicatos são as entidades que organizam os movimentos grevistas e, geralmente, tomam a frente, organizam as paralisações e instigam os trabalhadores e trabalhadoras. O movimento sindical tem o objetivo de defender e promover os direitos e interesses profissionais. Eu e o sindicalismo temos uma longa história de lutas, que levaram a conquistas significativas em favor dos trabalhadores e trabalhadoras ao redor do mundo. Venho visitar a universidade para demandar melhorias nas condições de trabalho, salários, direitos trabalhistas e sociais e, consequentemente, na educação. O que vai impactar diretamente vocês também!

No Brasil, eu existo desde 1917, mas somente em 1980 os professores e professoras das Instituições Federais de Ensino Superior recorreram a mim pela primeira vez. Durante todo esse tempo, nossa luta tem garantido a manutenção da universidade pública. Eu não aparecia na universidade de vocês desde 2015, e agora, eu precisei voltar.

Por meio de mim, os servidores e servidoras pedem mais valorização de suas carreiras, uma recomposição salarial e novos investimentos nas instituições de ensino federais. Em 2024, aqui na UFMS, eu tive início em primeiro de maio para as professoras e professores, enquanto os técnicos/as administrativos/as já haviam paralisado as atividades desde março.
Eu sou importante porque sou um dos instrumentos de luta histórica da classe trabalhadora. Eu existo quando os trabalhadores e as trabalhadoras reconhecem que precisam e podem exercer alguma pressão no governo. É o caso, já que o governo atual diz ter como prioridade a reconstrução do setor educacional, tão sucateado no governo anterior. Então, eu clamo a calma e a paciência de vocês!

Vocês precisam acreditar na minha força e na força dos seus servidores e servidoras, na força que as universidades têm. Elas, que são espaços sagrados de saber, da construção de uma humanidade melhor. E, acreditar principalmente, na força de vocês.

Eu garanto que existe responsabilidade pedagógica com vocês. Seus professores e suas professoras, as pessoas envolvidas com a educação, não fariam algo que fosse tão dramático ao ponto de simplesmente prejudicá-los/las. Tudo será recuperado e conquistado. E eu sei que posso dar medo, mas vem com medo mesmo, se proponha a me conhecer e participar. Eu sou uma necessidade, vocês verão que é com o enfrentamento consciente e cuidadoso que o respeito vem.

Caro e cara estudante, venho aqui humildemente pedir para que entendam que sou sinônimo de luta, resistência e resiliência. Quero o bem da classe trabalhadora e o seu também. Eu quero te inspirar, te instigar e te provocar a lutar pelo o que é nosso, apoiar a mim e quem está comigo. Eu, você e o sindicalismo devemos unir forças para o propósito de uma universidade justa e de qualidade. Quero que se lembrem que não precisam me difamar e nem ter receio de mim. Que nos dias comuns, na rotina corrida, vocês não se esqueçam do porquê estão aqui, não se esqueçam quantas de mim foram necessárias para vocês poderem usufruir do agora. E quem sabe, de um futuro da educação, inclusive, melhor.

Com carinho e esperança, Greve.