Texto: Julia Nogueira
Ilustração: Milena Melo
Em meio a votações sobre o apoio dos estudantes à greve, uma pauta diferente aparece: a greve estudantil. Entretanto, se questiona: por que uma greve estudantil agora? Por que o movimento estudantil não poderia simplesmente apoiar a greve sem necessariamente reivindicar uma paralisação adicional para atender a interesses próprios? Será que a greve estudantil pode ser chamada de oportunista?
Durante uma pesquisa realizada pelos Centros Acadêmicos (CAs) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), conduzida pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), a adesão à greve estudantil foi votada pelos alunos e alunas de cada um dos cursos de todos os câmpus da Universidade pelo estado. Antes da pesquisa, foram feitas assembleias promovidas pelos CAs de diversos cursos da UFMS, para debater as proposições.
No curso de Jornalismo, em Campo Grande, apenas 34 estudantes estiveram presentes, de forma online e presencial. Por causa do número baixo de discentes na assembleia realizada em 5 de maio, um formulário online foi disponibilizado no grupo geral do curso para votação. De 81 votos, 44 são a favor da greve estudantil e 37 contra. O curso conta com mais de 200 estudantes matriculados.

Mas o curso de Jornalismo não é o único a ser favorável a uma greve estudantil. O curso de Música, também na Cidade Universitária, teve uma aprovação de 51,7% à pauta, considerando 60 respostas. O curso de Letras do câmpus de Três Lagoas também foi favorável, de 64 votos, 38 foram a favor da greve estudantil. O curso de Engenharia Ambiental da Cidade Universitária foi favorável à greve com 69% de aprovação. O curso de Pedagogia do câmpus de Três Lagoas foi favorável com 96,6%, sendo 28 votos a favor e apenas um contra.
Os resultados provocaram debates acirrados no curso de Jornalismo. Mas a favor ou contra o que exatamente? Qual a proposta? Existem propostas? O que a possível greve estudantil reivindica? Em um documento disponibilizado pelo Cajor (Centro Acadêmico de Jornalismo) e indicado pelo DCE, a pauta da greve estudantil defende que este é o momento ideal para exigir as demandas dos discentes, já que dois grandes grupos já aderiram (professores e técnicos) e, caso deixassem para depois, os estudantes poderiam perder forças para manterem uma paralisação sozinhos.
Historicamente, o movimento estudantil brasileiro desempenhou um papel crucial em diversas greves e manifestações, cujas pautas não necessariamente estavam ligadas à educação ou aos seus próprios interesses, mas servindo de apoio à sociedade. “Apoio”. Essa deveria ser a essência, distante da sensação de oportunismo que paira no ar. Se a greve estudantil não é oportunista, então o que é? Incluir essa pauta é sufocar outra que batalha há mais de 80 dias por reconhecimento. É silenciar a voz da luta estudantil que sempre soube distinguir a hora de ser coadjuvante e a de ser protagonista. A votação realizada foi sim democrática, mas não representa nem 50% dos estudantes que estão matriculados em todos os cursos já citados na pesquisa.
De fato, a atual greve dos técnicos e docentes nas instituições federais de ensino aborda questões crucialmente importantes para as instituições, refletindo o propósito fundamental de uma greve: ser pensada coletivamente. A greve estudantil, que em tese deveria ser intitulada mobilização, já que os estudantes não fazem parte de uma categoria profissional, poderia somar esforços junto às classes que reivindicam essas melhorias.
Portanto, a resposta para a pergunta feita no início deste artigo, e que atravessa este texto até o fim, é só uma: antes fosse. Antes fosse oportunismo. A ideia de uma greve estudantil em si, não é oportunista, é apenas um reflexo do egoísmo e da desorganização do movimento estudantil atual. Pautar uma greve não é simplesmente exigir direitos nas redes sociais, é buscar apoio e engajamento dos próprios interessados/as que já se encontram desmotivados/as e perdidos/as. Uma pauta que se sobrepõe a outra, só diminui uma luta.