Texto: Maria Eduarda Fernandes
Ilustração: João Antônio
O cenário das universidades brasileiras é alarmante. O Brasil enfrenta um apagão docente, acontecimento que não é apenas uma metáfora para a escassez de professores, mas um reflexo de uma crise mais profunda e estrutural na educação superior. Este problema é exacerbado pelas greves que, até junho de 2024, paralisaram a maioria das universidades federais do Brasil, com docentes e técnicos lutando por recomposições salariais e melhores condições de trabalho. A situação é crítica e exige uma análise cuidadosa das raízes, consequências e da urgência de se encontrar soluções, já que o futuro do país depende diretamente da qualidade da educação. Mas não é só nas universidades, um estudo feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), em 2023, mostra que faltam professores inclusive na educação básica em todas as regiões do país.
Em queda desde 2010, com número de ingressantes e formandos, os cursos de licenciatura no Brasil têm formado menos professores a cada ano. Diversos fatores colaboram para este apagão e a desvalorização do professor universitário é um problema crônico e antigo no país. Salários defasados, falta de investimento em infraestrutura, recursos, e principalmente a ausência de um plano de carreira atrativo têm desestimulado ingressantes na carreira acadêmica. Docentes enfrentam uma carga de trabalho excessiva, com atividades que vão muito além da sala de aula, incluindo pesquisa, extensão e administração universitária, muitas vezes sem o devido reconhecimento ou compensação. Este quadro desmotivador afasta tanto os atuais, quanto os futuros docentes, gerando escassez no lugar de interesse.

Segundo Maria Ribeiro, professora de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades (PPGHDL/FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), explica que, para resolver o problema do apagão docente é essencial revitalizar o ambiente escolar. E por isso, devemos começar por resgatar o chão da escola como um espaço onde todas as experiências são legítimas. Isso requer uma revisão das condições de trabalho dos educadores, incluindo a redução da carga horária e o fornecimento de apoio adequado.
A precarização das condições de trabalho tem sido uma constante nas universidades brasileiras. Estudo feito pela organização “Todos pela educação”, em 2021, mostra que aumentou 55% a dependência de professores temporários e bolsistas, que trabalham sob contratos precários e sem garantias de estabilidade, em detrimento a uma redução de 36% no número de professores efetivos. Em muitos estados, os temporários já superam os concursados. A falta de perspectiva concreta e a insegurança laboral contribuem para um ambiente acadêmico desestabilizado.
Ou seja, as consequências deste apagão são muito mais profundas do que apenas um “atraso” do calendário acadêmico. A ausência de professores qualificados compromete diretamente a formação dos estudantes. Sem docentes suficientes, cursos são cancelados e disciplinas ficam sem oferta. A pesquisa, que é um dos pilares da universidade, também sofre. Projetos são interrompidos ou abandonados, publicações científicas diminuem e a inovação, que é tão necessária para o desenvolvimento econômico e social, é prejudicada.
Maria Ribeiro convida-nos a pensar sobre a natureza do apagão, uma pergunta que não é minha ou dela, mas nossa, como sociedade. Por que consideramos o apagão docente uma tendência atual?
A crise atual nas universidades brasileiras é como uma bomba-relógio que ameaça explodir a qualquer momento. A inércia dos responsáveis, que se mostram desinteressados em resolver o problema, é inadmissível. Professores/as são pilares para qualquer sociedade que aspirar um futuro melhor. Falando em sociedade, esta precisa despertar para a gravidade da situação e mudar o olhar e os questionamentos quando anunciada uma greve como essa. O “nossa, mas de novo?” pode e deve ser substituído pelo “por quê? pelo que eles estão lutando?” Se não houver mudança imediata na forma que encaramos a educação e os educadores, estaremos condenando não apenas a atual geração de estudantes, mas todo o potencial de progresso e desenvolvimento do Brasil. O tempo de agir é agora, antes que os danos irreparáveis comprometam irremediavelmente o futuro do nosso país.
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