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Opinião 104

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Em 5 de agosto de 2024, nas Olimpíadas de Paris, Rebeca Andrade conquistou a medalha de ouro no solo de ginástica artística. Naquele dia, fui uma das 1,6 milhão de pessoas que acompanharam, vidradas, a final e tweetaram a palavra ‘Rebeca’ na rede social ‘X’. Se não me engano, algo como: “Rebeca você conseguiu…”. Alguns anos antes, em março de 2022, me peguei empenhado na campanha de escutar a música ‘Envolver’, da Anitta, para fazer a nossa artista alcançar o Top 1 global do Spotify. O esforço foi recompensado. A minha e mais de 6,3 milhões de reproduções levaram a brasileira ao topo do universo da música na época. Um reconhecimento mundial.

Esse é um dos traços do povo brasileiro: a identificação que sentimos com os nossos compatriotas. Em geral, somos um povo orgulhoso de quem somos, mesmo com os nossos problemas – que reconhecemos muitas vezes – parece que sentimos orgulho do reconhecimento lá fora. Parece que quando o mundo reconhece que o Brasil existe e é bom, aflora esse sentimento patriótico e queremos ser mais notados. Isso, por um lado, pode ser visto como um ‘bom patriotismo’, um sentimento de devoção à pátria. Saudável algumas vezes? Mas também pode ter efeito contrário.

Um caso recente, foi a 97ª cerimônia do Oscar, especialmente importante para nós porque havia brasileiros lá. Não demorou muito para a nossa campanha pela primeira estatueta do Brasil começar. A mobilização nas redes sociais foi impressionante. Antes mesmo da indicação ao prêmio de melhor atriz, o perfil oficial da Academia do Oscar publicou fotos de 26 personalidades que estiveram no Governors Awards, incluindo uma de Fernanda Torres. Em menos de 24 horas, a foto da brasileira já contava com mais de um milhão de curtidas e mais de 260 mil comentários. A segunda foto mais curtida foi a do ator anglo-americano Andrew Garfield, com pouco mais de 41 mil likes. Uma enxurrada de orgulho.

Orgulho, certo? Só que esse sentimento fica um pouco de lado quando observamos o que aconteceu quando Fernanda perdeu a premiação para Mikey Madison. “O teste do sofá teve retorno”, “a Gretchen atua melhor que você”, “Oscar roubado”, são apenas alguns dos comentários desrespeitosos que a atriz americana recebeu em suas redes sociais. Obviamente que muitos brasileiros e brasileiras condenaram as ofensas e mostraram apoio à Madison, mas essa atitude tóxica foi estopim para que muitos fãs estrangeiros reprovassem o povo brasileiro.

E esse é só um caso em meio a muitos outros que vemos em época de eventos nacionais e internacionais. Temos a necessidade de mostrar ao mundo que somos bons, de sermos notados, a ânsia de torcer por nós mesmos, a comoção fervorosa e sem muitas medidas para a felicidade. Em contraponto, isso pode se transformar em má educação, desrespeito e mesmo violência. Será carência? Ou não aprendemos a lidar com a derrota? Ou é um reflexo das redes sociais? A praticidade e a liberdade que temos na internet fazem com que possamos nos expressar sem filtros e alcançar muita gente.

Essa liberdade nas redes tem recebido a atenção dos poderes Legislativo e Judiciário, que por meio do PL 2630/2020, conhecido como PL das Fake News, buscam implementar medidas como remoção de conteúdos, responsabilização das big techs pela presença de crimes virtuais em suas plataformas, proteção de dados dos usuários, entre outras. A proposta, ainda que bastante abrangente, é uma forma que o poder público busca para diminuir o discurso de ódio, cyberbullying e disseminação de conteúdo falso, tornando o ambiente virtual mais seguro e agradável para quem está nele.

Uma coisa é fato: onde tem um brasileiro, sabemos que tem um brasileiro. Nossa presença é notada, somos reconhecidos pela nossa expansividade. Há um senso de humor e uma criatividade despreocupada no nosso país que poderiam ser estudados. Seja boa ou ruim, lidamos com a realidade de maneira descontraída. Porém, quando expostos ao mundo, sentimos uma necessidade enorme de vitória, de provar nosso valor a todo custo.