O empenho cada vez maior de pessoas que querem ajudar o próximo
Texto: Gabriella Gomes (agabriellagomes@hotmail.com) l Waldir Rosa (waldir.rosa@uol.com.br)

O ano de 2020 começou com a notícia da COVID-19, e evitar o contato social direto para se proteger se tornou um desafio a ser vencido diariamente por todos. Mesmo assim a contaminação teve um progresso assustador. Mas enquanto não se tem uma vacina, a população carente é a que mais sofre as consequências do isolamento.
Além da pandemia o estado de Mato Grosso do Sul também está tendo que lidar com grandes incêndios. De acordo com o INEP, até setembro deste ano as chamas já consumiram cerca de 26% do território pantaneiro, uma área equivalente a oito vezes o tamanho do Distrito Federal.
Em meio a todos esses acontecimentos, muitas pessoas têm contado com ajuda humanitária por meio de trabalhos sociais, realizados por instituições e pessoas comuns. São doações de alimentos, roupas, itens de higiene pessoal, assistência psicológica, espiritual e até auxílio financeiro. Alguns trabalhos sociais já eram realizados antes da pandemia e se tornaram mais intensos e indispensáveis, afirma o pastor da Igreja Universal Manoel Moraes, responsável estadual do grupo de evangelização da instituição. Outras atividades, mais pontuais, nasceram esse ano quando os problemas se agravaram.
Motivos
No início da pandemia, de acordo com o Google Trends – ferramenta para acompanhar a evolução de número de busca no Google – o termo “como ajudar” teve um aumento repentino de procura entre meados de março e final de junho, com um pico entre 10 e 16 de maio. Algo similar ocorreu com o termo “como ajudar o Pantanal”, com um aumento do início de maio até o fim de outubro e um grande pico entre os dias 13 e 19 de setembro. A percepção desse interesse por ajudar o próximo é reforçada por uma pesquisa realizada pelo Datafolha entre os dias 1º e 8 de setembro, que ouviu mais de 1500 pessoas de todas as regiões e mostrou que 96% dos brasileiros tem o desejo de ser mais solidários e procuram alternativas para poder ajudar.

Mas a pesquisa também mostrou que muitos não sabem como colocar em prática esse desejo. Além disso os dados do Datafolha mostram que essa ajuda é pouco realizada em grupo, pois apenas 27% disse exercer alguma atividade coletiva de ajuda, enquanto 68% indicou que atua de maneira individual por não conhecer outros meios de realizar essas ações.
Uma das formas de auxílio coletivo e continuado são as ações sociais de cunho religioso. A Igreja Universal do Reino de Deus, presente em mais de 127 países, também é conhecida pelos trabalhos de ajuda humanitária que já atenderam mais de 11 milhões de pessoas em todo o mundo no ano de 2018, de acordo com o site oficial da organização. Sua atuação se dá por meio de grupos como o Evangelização Universal, responsável pelo trabalho de difusão das ideias religiosas e também pelas principais ações sociais. Os auxílios vão desde assistência espiritual, médica, odontológica, judiciária até a distribuição de alimentos, roupas e itens básicos de higiene.

Mas há também as ações pontuais. Foi o caso da equipe do Programa Giro do Esporte, da TVE Cultura do Mato Grosso do Sul, que para comemorar o aniversário de nove anos do programa, decidiu levar ao ar um programa especial ao longo do qual foi promovida a arrecadação de alimentos e produtos de higiene, para serem doados à pessoas carentes e em situação de vulnerabilidade. Realizado no dia 1º de agosto, o programa fez parceria com a Defesa Civil para que os itens arrecadados fossem direcionados às famílias necessitadas, relata a apresentadora do programa, Eva Regina Ferreira.
Também pontual foi a ação ‘100 fotos para o MS’, sendo essa, no entanto, feita por pessoas que não se conheciam. O jornalista Gustavo Maia, 27, é um dos organizadores da campanha inspirada em ações similares realizadas em estados como São Paulo, Minas Gerais, Ceará e em outros países. O grupo de organizadores, do qual Gustavo fez parte, buscou a parceria dos cem fotógrafos que doaram as fotos vendidas durante a campanha. O valor arrecadado foi direcionado para ajudar entidades não governamentais do estado. Conscientes de que o montante não seria muito alto, eles buscaram grupos que se encontravam em situação mais vulnerável diante da pandemia da COVID-19 e onde a quantia doada pudesse fazer diferença.
Aumentou de forma significativa desde o início da pandemia e em função disso parte dos recursos recebidos foram direcionadas também para regiões afetadas pelos incêndios desse ano. E não são apenas empresas e instituições que procuram a Defesa Civil. Catarineli explica que após o início da pandemia muitas pessoas passaram a entregar doações no órgão.
As doações à Defesa Civil aumentaram de forma significativa desde o início da pandemia
Na campanha “100 fotos para MS” a iniciativa contou a participação voluntária dos cem fotógrafos e de uma equipe que construiu a imagem e todas as ferramentas necessárias para a campanha. A principal dificuldade dos organizadores da ação foi encontrar cem fotógrafos dispostos a doar uma imagem, etapa vencida com divulgações nas redes sociais e contatos pessoais. As vendas foram realizadas de 1º de julho a 15 de agosto por meio de um site criado especificamente para a ação. Durante esse período foram vendidas 98 fotografias, cada uma ao valor de R$ 100,00. O valor arrecadado foi dividido entre o Coletivo Terra Vermelha, que atua junto aos povos indígenas de etnias como as Guarani e Kaiowá, e a seccional sul-mato-grossense da Central Única das Favelas (CUFA/MS), que atua junto aos moradores de favelas.

O pastor Manoel Moraes, responsável estadual pelo grupo de evangelização da Igreja Universal do Reino de Deus, também relata um aumento significativo de doações durante a pandemia. Moraes ressalta que em 2019 as contribuições foram de mais de 11 mil toneladas e neste ano, apenas nos primeiros nove meses, elas já chegam a mais de 52 mil toneladas. Ele também explica que os donativos recebidos são destinados a pessoas de comunidades carentes de regiões como os bairros Noroeste, Bom Retiro, Caiobá, Paulo Coelho, Comunidade Ronix, Balsamo, Santa Luzia, Itamaracá e Moreninhas. Além dos alimentos e roupas doadas, a IURD leva às comunidades serviços como corte de cabelo, escova, manicure, diversão para as crianças, atendimento médico, aula de escovação e limpeza dentária, atendimento jurídico e orientação espiritual, que são realizados por profissionais voluntários de diversas áreas.
As ações costumavam ser realizadas em escolas, creches ou quadras, mas por conta da pandemia passaram a ser feitas apenas em locais abertos nos diversos bairros carentes espalhados pela capital. Moraes garante que os eventos realizados durante a pandemia estão seguindo todas as recomendações de segurança emitidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com uso de equipamentos de proteção individual e respeito ao distanciamento mínimo nas prestações de serviços e na entrega de alimentos e donativos. Além de distribuídos nestes eventos, os alimentos e materiais recebidos passaram também a ser entregues de casa em casa, para evitar aglomerações.