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Opinião 97

A importância do psicólogo nas Olimpíadas de Tóquio

João Pedro dos Santos


Durante as Olimpíadas de Tóquio, o assunto ‘saúde mental’ deixou de ser um tabu após a ginasta Simone Biles, um dos grandes nomes do evento, desistir de cinco finais: por equipes, individual geral, salto, barras assimétricas e solo. Com isso, o papel do psicólogo que atua na preparação dos atletas de alto rendimento entrou em destaque, mostrando também os desafios dos esportistas ao longo do ciclo olímpico. A ideia do ‘no pain, no gain’ (sem sofrimento não há ganho) está ultrapassada, pois a performance chegará ao ápice apenas se o atleta estiver bem mentalmente e fisicamente.

Os psicólogos do esporte têm como principais funções melhorar o desempenho dos atletas e ajudá-los a superar os desafios mentais. Além disso, auxiliam os esportistas a lidarem com questões interpessoais, distúrbios alimentares, depressão e ansiedade. Estes dois últimos, inclusive, estão entre os principais transtornos citados pelos competidores em Tóquio. O trabalho é feito não apenas com os atletas, mas também com aqueles que o rodeiam, como treinadores e familiares.

Antes, era difícil os atletas procurarem ajuda dos psicólogos para melhorar seu desempenho mental, pois isso era visto como sinal de fraqueza. Hoje, essa situação é diferente. Não basta apenas a preparação e domínio técnico, tático e físico, pois o lado psicológico também tem que estar bom para os resultados serem positivos e para que o atleta consiga lidar com momentos difíceis.

São vários os fatores que causam desgastes mentais nos atletas de alta performance: autocobrança, cobrança externa, rotina rígida de treinamentos, busca por bons resultados, falta de autoestima, a apresentação como herói, o medo de fracassar e as críticas nas redes sociais. Michael Phelps é um exemplo disso. O nadador e maior medalhista olímpico da história entrou em depressão severa após enfrentar os altos e baixos da carreira. E sua situação piorou quando se aposentou das piscinas, nas Olimpíadas do Rio. Ele precisou da ajuda dos psicólogos para encarar essa fase difícil em sua vida. E revelou, no documentário ‘The Weight of Gold’, que o Comitê Olímpico Internacional não demonstra nenhum interesse pela saúde mental dos esportistas. Quando estrelas como Phelps e Biles abordam esse tema, a discussão cresce e talvez fique difícil para o COI não se importar com o psicológico nas próximas edições.

Psicóloga do Comitê Olímpico do Brasil, Carla Di Pierro foi responsável por cuidar da saúde mental do nadador Bruno Fratus e da maratonista aquática Ana Marcela Cunha. Bruno aprendeu da pior forma que depressão não é frescura, como pensava. Após a decepção na Rio 2016, ele fez um longo acompanhamento psicológico de cinco anos, chegou com a cabeça boa em Tóquio e conseguiu ganhar a medalha de bronze nos 50 metros livre. Ana Marcela também teve que passar por isso, chegando forte emocional e fisicamente e conquistando o ouro nos dez quilômetros da maratona aquática.

A psicóloga Carla di Pierro (de boné) e a atleta Ana Marcela Cunha – Foto: Acervo Carla di Pierro / Instagram

Quando atletas renomados como Michael Phelps e Simone Biles se abrem para falar sobre seus transtornos mentais, o assunto vira pauta e os psicólogos ganham holofotes. E isso revela a importância da preparação mental dos atletas para os momentos de pressão, no processo demorado para chegar em um evento como as Olimpíadas. Os profissionais envolvidos trabalham para que as situações de esgotamento, depressão, ansiedade ou falta de foco sejam evitadas ou resolvidas, e com isso o desempenho seja o melhor possível. O que não necessariamente implica em ganhar medalhas, pois, como disse Biles “a saúde mental é mais importante nos esportes nesse momento. Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos”.