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Reportagem 99

A necessidade do con(tato)

Pensar na saúde mental de jovens e idosos, em 2022, é entender como diferentes gerações lidam com o retorno das atividades sociais após dois anos de reclusão

Texto: Bruna Querino | Larissa Adami | Marina Gabriely | Rafaela Teodoro | Victória de Oliveira


Dois extremos marcam a luta pela prevenção de doenças psiquiátricas, impactadas principalmente pela pandemia de Covid-19. A vida muitas vezes imediatista dos jovens afetados por padrões estéticos, financeiros e comportamentais, e a vontade de aproveitar cada segundo, de alguns idosos que retomam o contato pessoal e as atividades do dia a dia.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) demonstrou otimismo em setembro de 2022 sobre o final da pandemia. Com o essencial resguardo para evitar contaminações, o cenário parece propício para o retorno das atividades do período pré-pandêmico. Ainda assim, os resquícios do isolamento social são notórios em várias áreas na vida da população, especialmente quando o assunto é saúde mental. No caso de quem era do grupo de risco, aquele mais propenso a desenvolver sintomas graves da Covid-19, uma opção para preservar a saúde mental foi atividades semelhantes às ações anteriores ao cenário pandêmico.

Sidney Nunes é responsável técnico do Asilo São João Bosco, em Campo Grande, que atende cerca de 47 homens e 34 mulheres. Ele assumiu o cargo em 2019 e ressalta que a diminuição das visitas presenciais foi um grande fator de impacto no ânimo dos idosos residentes do local. “Nem todos os nossos idosos possuíam o costume, antes mesmo da pandemia, de receber visitas individuais. Aqueles que possuem família e as viam periodicamente sentiram mais falta durante o isolamento social, porque foi tudo diferente”, explica.

O Asilo São João Bosco atende 81 idosos em suas dependências e é aberto para visitação do público com agendamento – Foto: Victória de Oliveira

Para amenizar a proibição das visitas, o asilo buscou maneiras de preservar hábitos saudáveis e auxiliá-los no enfrentamento às complicações do isolamento social. Nesse sentido, a rotina dos “vôs” e “vós”, como são carinhosamente chamados pelos cuidadores e visitantes, desde então, segue horários específicos para acordar, realizar o cronograma alimentar do café da manhã, almoço, café da tarde e jantar, além de outras atividades como a “soneca” da tarde e o encontro de todos nas áreas comuns para as visitas.

A estratégia, explica Sidney Nunes, foi manter a dinâmica de costume para que os residentes fossem o menos afetados possíveis com a realidade do mundo externo. “Eu não coloquei máscara [de proteção facial] nos “vôs” durante a pandemia. A nossa equipe sim utilizava, às vezes, até capote e luvas. Mas aqui é a casa deles, e ninguém usava máscara em casa. Claro que algumas atividades foram encerradas até que o período crítico passasse, mas fizemos de tudo para que eles continuassem com uma rotina de casa mesmo”.

O vô Clarêncio*, um dos mais experientes moradores da “Casa”, aos 88 anos, não recebe visitas individuais e por isso se alegra com a presença dos voluntários. “Na pandemia ninguém entrava aqui. Agora está bom, toda semana aparece um monte de visita para a gente”.

O vô Clarêncio*, residente do Asilo, não recebe visitas individuais e se alegra com a presença dos voluntários devido ao fim do isolamento social – Foto: Victória de Oliveira

O contato presencial é o melhor caminho para auxiliar na prevenção de doenças psiquiátricas. A psicóloga Mariane Antoniassi explica que a pandemia trouxe à tona diversas vulnerabilidades e tipos de luto. “A pessoa idosa já vivencia diversos lutos por conta do envelhecimento e a pandemia trouxe mais à tona essas vulnerabilidades e experimentou mais outros lutos. A gente precisa entender e pontuar que a realidade de cada idoso é diferente e isso interfere diretamente na forma como enfrentaram o período mais crítico da pandemia”.

A psicóloga ressalta que quadros de ansiedade e depressão aumentaram significativamente. Em 2020, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) de Campo Grande atenderam 9.014 pessoas com 60 anos ou mais anos, enquanto no ano de 2021, onde houve uma flexibilização do isolamento social, as consultas foram cerca de 22% menos frequentes, com 7.044 acompanhamentos. Até julho deste ano, um mês após o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul instituir a revogação do Decreto nº 15.396 de 19 de março de 2020, que reconhecia a situação de Emergência de Saúde Pública no estado, a Sesau contabilizou 4.352 atendimentos de idosos nos CAPS. É importante ressaltar que nos dois primeiros anos de pandemia, a Sesau reduziu em 40% a capacidade dos atendimentos nos CAPs, enquanto no presente ano, as ações foram retomadas em 100%.

Nos dois primeiros anos de pandemia, a Sesau reduziu em 40% a capacidade dos atendimentos nos CAPs, enquanto no presente ano, as ações foram retomadas em 100%.

A aposentada Maria Alice Bissaco Mendes, de 76 anos, conta que o medo da pandemia foi quanto à segurança das pessoas do ciclo de convivência. A idosa mora sozinha em um condomínio no bairro Tiradentes e convivia frequentemente com os filhos, netos e amigos. Com a necessidade do isolamento social, os contatos cessaram e a urgência de aprender, quase sem ajuda, a mexer com a tecnologia tomou conta da rotina da idosa.

Maria explica que foi acometida grande parte da velhice pela depressão. Fez uso de antidepressivos e ansiolíticos até antes da pandemia, quando conseguia comparecer às consultas sem se preocupar com a contaminação da Covid-19. “Com a pandemia, tivemos que ficar mais resguardados, em casa, então fui somente a médicos essenciais. Não que ir ao psiquiatra não seja, mas encontrei outros meios de lidar com as doenças, em outras atividades e pensamentos.”

Maria e as amigas se encontravam na varanda da casa da idosa durante o período pandêmico, pela grande janela de vidro. “Senão ninguém ia aguentar”. O jeito foi pensar com otimismo e assegurar o reforço emocional por meio do contato. “Vamos falar a verdade: não adianta ter medo. Eu tenho 76 anos, tenho que aproveitar os anos que ainda tenho pela frente. Meu medo era minha família. Ainda têm muito para viver, não quis, em momento algum, que isso fosse interrompido de maneira alguma”.

“Eu tenho 76 anos, tenho que aproveitar os anos que ainda tenho pela frente” – Maria Alice Mendes

Assim como os “avós” do Asilo São João Bosco e a aposentada Maria Alice, a servidora pública aposentada Angela Maria Cordeiro Tavares, de 69 anos, sentiu fortemente a falta do contato. Foram as idas à janela, onde conseguia observar o pouco movimento da rua e o florescer da vegetação em volta ao condomínio do Pioneiros, que auxiliaram a idosa a se manter esperançosa com o fim da reclusão social. “Eu queria ver algum movimento e não passava um carro sequer na avenida, um silêncio. Eu só pensava ‘Meu Deus, isso tem que acabar, ninguém aguenta mais’. Depois que a vacina chegou, as coisas melhoraram”.

Angela reside na Capital sul-mato-grossense há 27 anos e há seis anos mora num pequeno apartamento no bairro Pioneiros, onde passou a pandemia na companhia do primo, Jorge, de 63 anos, e do filho, Denis, de 34 anos. A tecnologia possibilitou o contato provisório. “O pavor era imenso. Mesmo morando na mesma cidade que outros parentes, nos comunicávamos pela Internet”.

Isolamento social(mental)

Assim como afirmado pela psicóloga Mariane Antoniassi, é importante considerar as particularidades da vivência de cada idoso e fugir do senso comum de que o grupo apresenta maior incidência a transtornos psicológicos. A geração se mostrou mais positiva às problemáticas do isolamento social, quando comparada a parcela dos jovens entrevistados, que manifestaram quadros mais profundos em relação à saúde mental.

Se o meio tecnológico para as aposentadas Maria Alice e Angela serviu como meio de controlar melhor seus pensamentos e lidar com a saudade dos familiares e amigos, para Gabriela Caldas, 24 anos, foi completamente ao contrário. A jovem deixou de usar as redes sociais durante a pandemia depois de uma situação traumática envolvendo tentativa de roubo de dados e, por conta disso, se afastou dos amigos. O acontecimento no momento em que todos precisavam estar em isolamento e, assim, podendo se comunicar apenas de forma virtual, foi a junção perfeita para o medo. “Teria sido diferente se eu tivesse passado por isso antes da pandemia. Na minha cabeça, a qualquer momento eu seria hackeada de novo, isso me amedrontou e pausei as conversas com as pessoas. Nesse ponto vi que precisava de ajuda psiquiátrica.”

Gabriela estuda Audiovisual em Campo Grande, mas é natural do interior de São Paulo. Logo no início, quando voltou para a cidade natal, começou a ter crises de ansiedade e medo. “Eu achava que estava com Covid toda hora, quando voltei para minha casa de ônibus e sem máscara, achei que poderia ter pego o vírus e que iria passar para toda a minha família.”

Durante a pandemia, Gabriela se distanciou das redes sociais por conta de uma situação traumática envolvendo hackers. Foto: Bruna Querino

Levantamento do Projétil realizado com 116 jovens da capital sul-mato-grossense, por meio de formulário na internet, aponta que apenas seis dos entrevistados não conhecem outros jovens que sofrem com transtornos psicológicos. Além de conviverem com essas pessoas, 69% dos abordados também alegam sofrer com algum quadro, sendo os mais recorrentes o de transtorno de ansiedade e a depressão.

Clique aqui para ter acesso ao infográfico completo. Infográfico: Marina Gabriely – Recursos: Freepik com alterações

De acordo com a terceira etapa da pesquisa “Saúde Mental e Bem-estar na Pandemia”, realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) para monitorar os sentimentos, sintomas e experiências dos acadêmicos da instituição, houve um registro em mais de 40% na incidência dos transtornos mentais.

O estudante de Biologia, Altair Neto, de 22 anos, mora com seus avós e conta que o isolamento desencadeou o medo do contágio nele e nos familiares. “Desenvolvi um transtorno de ansiedade muito forte na pandemia, principalmente com relação a me expor, ficar doente e pegar o vírus”. Relata que estava no seu melhor momento da faculdade, saindo com vários amigos, “aí a pandemia chegou e me tirou tudo isso.”

Altair estava vivendo o seu melhor momento da faculdade, saindo com vários amigos quando a pandemia chegou e estreitou essa oportunidade – Foto: Maria Violin

O estudante possui histórico de distúrbios alimentares e quadros de insônia, e explica que a ansiedade e a falta de contato auxiliaram no retorno dos problemas com alimentação que estavam sob controle até então. “Durante a pandemia eu ganhei todo o peso que havia perdido, devido a anorexia enfrentada em 2019. Eu perdi 50 quilos na época e ganhei 57 quilos em 2020.”

“Durante a pandemia eu ganhei todo o peso que havia perdido, devido a anorexia enfrentada em 2019. Eu perdi 50 quilos na época e ganhei 57 quilos em 2020” – Altair Neto

Além de Altair, o graduando em Farmácia José Vinícius Júnior, de 22 anos, convive há quatro anos com o diagnóstico de transtorno compulsivo alimentar e, recentemente, com ansiedade severa. O peso e a alimentação mudaram durante o isolamento e o afetaram psicologicamente. “Antes de 2019 eu estava acima do peso, era fora do padrão. Então entrei num ritmo muito acelerado de academia, faculdade, jejuns, dieta, e aí de repente, com a pandemia, não podia ir para academia, eu só pensava ‘Nossa, tudo de novo [ganho de peso].’”

Os fatores para o desenvolvimento de um transtorno são diversos, uma situação considerada banal para um, tem um efeito brusco para outro. Para José, que se identifica como homossexual os padrões estabelecidos no meio em que está inserido, acarretou em uma visão distorcida do seu corpo, por sentir a necessidade de estar numa estética para ser visto nos aplicativos de relacionamento.

Os sintomas de José começaram antes da pandemia, com dietas e jejuns objetivando emagrecer, e se intensificaram no período de isolamento – Foto: Maria Violin
A virada de chave

Aceitar que se tem um problema que precisa de tratamento é um processo, ora lento, ora acelerado. Sobre saúde mental, cada indivíduo reage de uma forma e a ‘virada de chave’ vem em situações particulares. Para José Vicente, veio no momento em que pensava frequentemente em acabar com a própria vida. “Eu fiquei pensando em pegar todos os remédios que tinha, mas sabia que não era normal planejar isso. Fiz estágio em um posto de saúde e enquanto estava lá, dei o primeiro passo na busca por tratamento.”

O levantamento desta reportagem apurou que, dos 80  jovens entrevistados com quadro de transtornos, 85% tiveram seus sintomas intensificados durante a pandemia.

O levantamento desta reportagem apurou que, dos 80 dos jovens entrevistados com quadro de transtornos, 85% tiveram seus sintomas intensificados durante a pandemia. Desses, 40% não realizam nenhum tipo de acompanhamento profissional. O processo de aceitação e o de procura por tratamento nem sempre acontecem de forma simultânea. José já tinha buscado especialistas antes, e abandonado o tratamento, mas só aceitou e passou a lidar de forma mais leve com o diagnóstico depois de uma forte crise de ansiedade, da qual precisou de atendimento de emergência.

O psiquiatra Juberty Antônio explica que o abandono do tratamento é recorrente e, na maioria das vezes, ocorre por causa dos custos e dificuldade de acesso aos profissionais. De acordo com a sondagem do Projétil, três dos 48 jovens que responderam realizar tratamento, estão sem acompanhamento.

Juberty relata que cerca de 20% da população está acometida por algum transtorno psicológico. De acordo com ele, também é muito comum uma pessoa ter mais de um problema psicológico ao mesmo tempo, a maioria das vezes a ansiedade liga outras enfermidades psiquiátricas.

Para Altair, o pontapé para iniciar seu tratamento foi a volta do distúrbio alimentar, ocasionado por ansiedade e medo. “Não me culpo por ter ganhado meu peso de novo, a ansiedade e os transtornos depressivos que tive na pandemia teriam sido muito piores se eu não tivesse encontrado a comida como um refúgio, que foi o que eu consegui naquele momento”. Perceber a necessidade de ajuda e buscá-la, com apoio de psicólogo e psiquiatra, fez com que ele tivesse estrutura para retornar a vida no presencial.

Juberty explica que os tratamentos psiquiátricos não são datados. “Você pode fazer um planejamento, mas podem ter intercorrências que fazem ele durar mais ou até menos tempo”. Ele relata que com frequência as doenças precisam ser tratadas pelo resto da vida.

Ter um relacionamento saudável com a comida é uma forma de auto cuidado e manutenção da saúde física e mental – Foto: Maria Violin

Gabriela explica que por fazer um tratamento pós-traumático, pôde ter uma noção de duração, já que se trata de uma situação específica. “Eu estou muito melhor agora, às vezes sinto o meu corpo estranho e um pouco mais ansiosa, mas é por que estou diminuindo a dosagem do remédio para a retirada”.

A pandemia da Covid-19 acarretou e intensificou uma série de problemas psicológicos em idosos e jovens. Em todos os casos, a mudança da rotina e a insegurança foram fatores que ocasionaram desde inquietação mental a problemas psiquiátricos severos. O antagonismo das perspectivas das faixas etárias se encontra no sentimento de anseio pelos novos dias e pelo retorno do contato físico e cotidiano com o próximo. De volta à normalidade?


A vida é o elo que une as gerações

O psicólogo Viktor Frankl, no livro “O sentido da vida”, descreveu a experiência pessoal nos campos de concentração nazistas e explicou um método terapêutico, a logoterapia (abordagem que se fundamenta empiricamente no sentido da vida), que o ajudou a sobreviver.

No processo, o autor observou que algo que predefinia se o companheiro de confinamento iria morrer, era a percepção de um sentido para a vida. Sendo assim, na percepção do autor, o sentido da vida serve para qualquer pessoa que queira realizar algo. Ter esse sentido, é o que pode gerar a força necessária para continuar vivendo.

Não há como afirmar que a força mental para seguir a vida, muda de acordo com a faixa etária, no entanto, talvez diferentes idades, tragam distinções no sentido do viver. Para alguns, o sentido é totalmente para si, já outros podem depositar o sentido da vida no viver de outro alguém, com isso, para realizar tal sentido, é necessário apenas a garantia final de que o outro está bem.

Se essa afirmação estiver correta, temos então a explicação para os resultados contrastantes ao entrevistar jovens e idosos. Frankl explica que sua abordagem não se aplica apenas para situações extremas, mas sim para a vida cotidiana. Vemos então no contexto de rotinas voltando ao normal, pessoas seguindo a vida, tendo ainda os mesmos sentidos que as ajudaram durante o pico da pandemia do covid-19.

A maioria dos jovens entrevistados projeta o sentido da vida em ter novas experiências e convivências. A maioria dos idosos relata histórias nas quais podemos ver que um dia também enxergaram assim o sentido para a vida, mas após realizados, projetaram o novo sentido no viver da outra geração, compartilhar experiências e observar como vivem cada uma delas. Isso fica evidente na reportagem, quando o estudante Altair Neto explica que o isolamento social, barrou seu “melhor momento” o relacionando à faculdade e aos passeios com amigos. Enquanto dona Maria esclareceu que só tinha medo pela família afirmando que os filhos e netos “ainda têm muito para viver”.

Viver é diferente de sobreviver, e o contexto “vivência” ou “sobrevivência” distingue o sentido e induz ao resultado de vida ou morte. O dicionário Michaelis relaciona o conceito “viver” com a ideia de “existir, ter prazer, passar a vida de um certo modo”; enquanto sobreviver, se relaciona à ideia de “resistir a qualquer tipo de dificuldade, continuar vivo após acontecimento de extrema gravidade”, “manter-se ao longo do tempo e/ou do espaço; subsistir”. A saúde mental é essencial nesse sentido, no entanto, quase que automaticamente é afetada diante de situações traumáticas, como a experiência do confinamento, ou a experiência de viver em um período pandêmico.

A psicóloga campo-grandense, Katyelle Efoncio explica que no momento em que se passa por uma situação ruim, é necessário aceitar o fato que não se tem controle sobre a situação, mas sim sobre suas atitudes. É necessário reagir criando “motivações e coragem” para enfrentar as dificuldades.

Os idosos apresentaram discursos que demonstravam maior índice desse entendimento ainda durante a situação traumatizante. “O jeito foi pensar com otimismo e assegurar o reforço emocional por meio do contato” “vamos falar a verdade: não adianta ter medo”, pontuou dona Maria. Talvez, tal posicionamento esteja presente por acumularem mais experiências lidando com outras situações ao longo da vida.

Os jovens apresentam discursos que revelam ter seguido tal entendimento apenas depois do alívio no número crescente de perdas pela contração do vírus. E por consequência apresentam sequelas maiores do que as expostas pelos entrevistados da geração anterior. “Durante a pandemia eu ganhei todo o peso que havia perdido”, afirmou Altair demonstrando que a ideia de ‘apenas seguir em frente’ não era possível durante o processo.

Ainda antes da manifestação do vírus do Covid-19, a OMS já elencou a saúde mental como prioridade absoluta para os próximos anos, apresentando depressão como o mal do século e afirmando que a depressão deverá ser a doença mais comum do mundo em 2030. Katyelle explica que os transtornos que mais têm crescido nos últimos anos são ansiedade e depressão, acrescenta também que depois da pandemia, em março deste ano, estes transtornos obtiveram o aumento de 25%.

Embora o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresente dados que definem que a geração idosa é a mais atingida pelo citado “mal do século”, a psicóloga explica que nesse contexto temporal, quase um bilhão de pessoas do mundo tem vivido com algum transtorno mental. Katyelle também pontua que o suicídio foi responsável por mais de uma em cada 100 mortes, sendo 58% antes dos 50 anos de idade.

A reportagem feita com as duas gerações (jovens e idosos) não apenas contrasta com os dados do IBGE, mas deixa um alerta quanto à necessidade de extensão da preocupação com a saúde mental em todas as gerações.

Veja abaixo o vídeo da psicóloga Katyelle Efoncio explicando a teoria de Viktor Frankl.