Texto: Texto: Camille Filetto | Rebeca Ferro | Sarai Brauna
Foto: Kauã dos Santos

Dezenove mulheres e apenas um homem. Isso não é só uma curiosidade da turma que produziu a edição 105 do Projétil, foi o ponto de partida para a produção. Esse número nos fez olhar para a sala, para o jornalismo e para o mundo com outra lente: a das mulheres, em sua pluralidade. Com diferentes histórias, origens, trajetórias e vozes, elas não apenas ocupam espaço, mas são capazes de transformá-lo, diariamente.
O jornalismo, como tantas outras áreas, foi por muito tempo um território masculino. Hoje, as mulheres são maioria nos cursos de graduação. Segundo dados disponibilizados pelo IBGE, 60% dos concluintes dos cursos de graduação no Brasil em 2024 eram mulheres. Na área de Comunicação eram 61,4%. Elas chegaram com olhar, escuta, crítica, repertório e potência diferenciadas.
Falar de mulheres nesta edição, não é falar de uma identidade única, de um modelo ideal ou de um discurso fechado. Falamos de mulheres cis e trans, negras, brancas, indígenas, lésbicas, bissexuais, mães, jovens, idosas, periféricas, do centro, das margens. Falamos das que estão aqui hoje, mas também daquelas que abriram caminhos antes de nós.
O Projétil 105 é atravessado por mulheres. O que estamos produzindo parte de nossas vivências, inquietações, conflitos, questionamentos e processos de pertencimento. Isso é político. Quando a força presente é de mulheres, o modo de ver, de apurar e de narrar mudam. Não se trata de um “jornalismo feminino”, mas uma atenção e cuidado diferentes com o que nos cerca.
Celebrar as mulheres, no entanto, não significa romantizar ou ignorar as tensões que as envolvem. A pluralidade que evidenciamos está carregada de desigualdades, silenciamentos, disputas de espaço e por reconhecimento. Existir mulher ainda é enfrentar o machismo, o assédio, a desvalorização e o julgamento constante da aparência, da fala, do tom, das escolhas.
As mulheres desta edição se propõem a escrever outras versões em uma tentativa de desnaturalizar estereótipos. Questionar a nós mesmas. Trazer inseguranças, dúvidas e defeitos que colocaram em nós. Reafirmar nosso lugar, nossa existência e resistência, que só é possível porque lutamos para estarmos vivas hoje.
Neste Projétil, as mulheres indígenas são liderança, as trabalhadoras sexuais são visíveis e o corpo envelhecido é sinônimo de beleza nas imagens, nos temas e nos silêncios. Está em quem escreve e em quem relata. Está no que aparece e no que ainda precisa ser dito.
As vozes femininas que ecoam na edição 105 não pedem permissão. Elas afirmam, confrontam e narram onde antes só se podia escutar. Porque permanecer nesses ambientes também é um ato de coragem. Entre palavras e imagens, há também um silêncio que fala. Que grita. Que denuncia. Que carrega tudo o que ainda precisa ser nomeado.
Aqui também relembramos todas as que tiveram as suas vidas interrompidas, que foram cerceadas por obrigações e julgamentos, que deram tudo de si para conseguir cumprir as expectativas a que eram demandadas. Há muito o que ser conquistado, recontado, descoberto e iluminado.
Celebramos a força de todas as mulheres brasileiras que ocupam as ruas, as casas e as estradas. Por mais que o caminho que trilhamos seja difícil, nós orgulhamos aquelas que não tiveram a oportunidade de passar por ele, e reconhecemos que cada pequena conquista pelas quais lutaram hoje celebramos e vivemos.
No Projétil, há questionamentos nas palavras escolhidas, nas frases construídas, nas imagens e nas cores utilizadas. Nos vestimos de padrões para que possamos questioná-los e confrontá-los. Decidimos dizer não ao que nos cala e nos rotula Aqui, as mulheres não são apenas a pauta. São autoras. São quem sinaliza. São as que caminham antes, ao lado e depois.
Boa leitura!