O tema do Projétil 102 nasceu de uma antonímia. Quando nos demos conta de que em 2024 a Ditadura Militar completaria 60 anos, não podíamos deixar de falar sobre um assunto tão marcante na construção da identidade brasileira atual. Com isso, a partir das conversas entre alunas, alunos e professoras, surgiu a ideia de trazermos como tema-eixo o que mais faltou durante os 21 anos sangrentos do Regime Militar no Brasil, a liberdade. Por meio do caderno especial “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”, a editoria executiva relembrou momentos da Ditadura no atual Mato Grosso do Sul e conheceu histórias de pessoas que resistiram a este tempo aqui no estado.
A falta de liberdade em um governo ditatorial é incomparável com a dos dias atuais, mas não se restringe somente aos anos 1960, 70 e 80. Essa palavra, que proporcionou o direcionamento das nossas produções, é muito usada em incontáveis contextos, mas será que sabemos plenamente o que ela significa? Quais problemáticas perpassam o exercício da liberdade? Liberdade considera raça, gênero, orientação sexual e outras minorias sociais?
Nesta edição, o Projétil apresenta a liberdade como tema central, percorrendo diversos subtemas intrínsecos e ela. “Tempo para liberdade”, por exemplo, é uma reportagem que trata do lazer. Quem e como temos acesso a ele, ainda que seja um direito garantido pela Constituição Federal.

“Prisão sem grades” fala das limitações na ressocialização de ex-presidiárias e ex-presidiários e como a liberdade para esse grupo é apenas uma palavra. Já “Amor só dura em liberdade” é um texto de opinião sobre relacionamentos não-monogâmicos. Além disso, o jornal percorre o vício em tecnologia, a jornada exaustiva da maternidade somada ao trabalho fora de casa, o estigma das torcidas organizadas, o trabalho análogo à escravidão, entre outras questões com ânsia de liberdade.
Os gramas de maconha dependem da cor de pele para diferenciar o dependente químico do traficante. O racismo define quem deve ser culpado e quem, punido quando porta uma trouxinha de baseado. O tema é tratado como tabu, estigma e com racismo. Ideologias e polarizações não permitem um aprofundamento na discussão que se arrasta por anos: a descriminalização da maconha para casos específicos. O enfrentamento a temas sensíveis pela sociedade passa pelas ruas e também pelos lares.
Casamentos entre adolescentes do sexo feminino com homens muito mais velhos impedem a experiência da juventude em troca da promessa de uma ascensão socioeconômica.
Todos esses assuntos (e mais) são tratados do ponto de vista libertário, na busca por compreender um pouco mais sobre esse tema tão vasto e valioso, mas constantemente ameaçado.
Uma ótima e liberta leitura!