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Opinião 99

Como transformar a tecnologia em aliada?

Ana Carolline Krasnievicz Homem


A presença das tecnologias digitais na vida diária tornou-se constante e praticamente indispensável, assim, desconsiderar ou mesmo proibir o uso de dispositivos como celulares, tablets, computadores e TVs é impossível. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) , a exposição excessiva às telas e à internet durante a primeira infância não é saudável, por isso o tempo de tela deve ser de, no máximo, uma hora por dia. Porém, como controlar esse uso quando o assunto são as crianças? Monitora e mediar? Deixar livre acesso? Ou ensinar desde cedo os benefícios da internet, bem como o seu uso responsável?

Ilustração: Vinicius Davis

As respostas a essas perguntas podem vir do conhecimento dos processos de aprendizagem da criança. Então, como as crianças aprendem? Porque alguém ensina. Errado. Paul Tough, no best-seller americano “Como as crianças aprendem”, afirma que o processo acontece na observação. Essencialmente, crianças aprendem por meio de interação e de relacionamentos.

Segundo a psicóloga Vaniele Barcelos, nessa idade as crianças, até os cinco anos, desenvolvem o comportamento por tentativa e erro. Assim, se a criança exerce um comportamento e recebe uma resposta positiva ela volta a realizá-lo mais vezes.

O aprendizado na primeira infância acontece nos mais diversos contextos e espaço: em casa, na escola, no parque, nos lugares frequentados pela criança. Por isso, é importante garantir a qualidade dos ambientes, não só físicos, mas também virtuais. Daí a preocupação com o acesso seguro a sítios eletrônicos/digitais.

Não podemos ignorar os avanços tecnológicos e é imprescindível compreender o uso das tecnologias digitais, de modo recreativo e educativo, para que as atividades realizadas nesses espaços beneficiem as crianças. Neste cenário, vale ressaltar a importância que os primeiros anos têm no desenvolvimento infantil; os estímulos recebidos nesta fase podem impactar o modo como elas aprendem ao longo da vida.

Um estudo da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) realizado com 103 crianças de dois a três anos e meio de idade, publicado em 2020, apontou que o uso de telas de alta qualidade, com a mediação e participação dos pais, proporciona melhores resultados para o aprendizado infantil. .

Os participantes, que usaram telas, acompanhados dos pais, mostraram melhores índices de desenvolvimento de linguagem, coordenação motora e socialização. Para Vaniele, equilíbrio é a palavra de ordem. “O estabelecimento de regras e horários para o uso se mostram importantes, os pais devem ter consciência que o uso não deixa a criança agressiva, ou maldosa de alguma forma, mas sim a não determinação desses limites”, afirma.

Devemos lembrar que a criança gosta de brincar, e que os meios de aprendizagem digital são dos mais variados. Alguns jogos incluem questionários, desenhos para colorir e exercícios de organização. O mesmo estudo citado mostrou, também, que as crianças se interessaram mais por conteúdos com vídeos e personagens.

No entanto o uso imensurável e a exposição excessiva da crianças às tecnologias, sem o acompanhamento dos tutores, tem riscos, entre eles, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), irritabilidade, sedentarismo, problemas de autoestima e até a sexualização precoce. Portanto, a busca pelo equilíbrio deve ser constante.

Acima de tudo, uma criança precisa de um ambiente seguro, que faça sentido para ela. São necessários estrutura e estímulos adequados para o desenvolvimento do comportamento infantil. A mediação dos pais e tutores é essencial. Segundo a organização “Primeira Infância em Pauta”, o tipo de conteúdo acessado faz a diferença, atividades mais ativas como videogames e conversas trazem melhores resultados na aprendizagem do que atividades mais passivas como assistir televisão.

Vale lembrar que a tela é apenas uma das possibilidades do dia, atividades físicas e contato ao ar livre devem fazer parte do cotidiano das crianças em todas as fases do desenvolvimento.