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Opinião 97

Conto de fada

Beatriz Santos


Era uma vez uma fadinha que andava de skate. Com seu vestido azul e suas asas de fada, a diversão para Rayssa Leal era pular por sobre as escadas de Imperatriz, no Maranhão, e treinar todas as novas manobras que aprendia. O que mais uma menina de oito anos poderia querer além de brincar? O que ela não imaginava era que essa brincadeira de criança a levaria muito longe.

Quando um vídeo seu viralizou na internet depois de ter sido republicado por Tony Hawk, um famoso skatista americano, a garota foi apelidada de ‘Fadinha do skate’ pelo ídolo, que comentou: “Eu não sei nada sobre isso, mas é incrível: um heelflip no estilo de conto de fadas no Brasil”. Com a benção de Hawk e o seu vídeo espalhado pelo mundo todo, a maranhense realizou o sonho de conhecer a skatista brasileira Letícia Bufoni, que era sua inspiração desde os seis anos de idade. E incentivada pelos ídolos, Rayssa passou a participar de diversas competições e a trazer medalhas pra casa.

Ilustração: SYUNOI

A pequena Fadinha não só se tornou a primeira campeã mirim da modalidade Skate Street no Brasil, como também voou para Londres e Los Angeles para participar de competições internacionais, mostrando seu talento lá no exterior. Aos treze anos de idade, Rayssa Leal foi a única participante brasileira classificada para representar o Brasil nas finais de Street nas Olimpíadas de Tóquio realizadas em 2021, superando as competidoras brasileiras Pâmela Rosa e Letícia Bufoni, atualmente a primeira e a quarta melhores skatistas do mundo na modalidade.

Entre as voltas na pista e os momentos de espera, Rayssa encantava tanto pelas suas habilidades quanto pelo seu carisma. A garota impressionou porque conseguiu executar manobras de alto nível de dificuldade com exatidão e domínio das técnicas profissionais mesmo sendo muito nova. A Fadinha chegou a liderar a final, contudo, terminou com uma medalha de prata, tornando-se a brasileira mais nova a subir ao pódio olímpico. Ganhou também o prêmio Visa Awards, a partir de votação popular, que prestigia o atleta que teve a conduta que melhor represente o espírito dos Jogos Olímpicos. Com isso, arrecadou 50 mil dólares para doar a uma instituição de caridade de sua escolha.

Após as Olimpíadas, Rayssa também participou da Liga Mundial de Skate Street (SLS), torneio que aconteceu no Arizona, Estados Unidos. Lá venceu a segunda etapa do campeonato superando outras duas competidoras, Momiji Nishiya e Funa Nakayama, ambas japonesas, respectivamente a medalhista de ouro e de bronze dos jogos olímpicos de Tóquio na categoria. Com isso a Fadinha conseguiu a marca inédita de ser a primeira skatista a ganhar duas etapas seguidas do SLS em um único ano.

Ela também subiu ao pódio no Super Crown, etapa final do campeonato, onde ficou em segundo lugar, atrás de Pamela Rosa, skatista que levou a medalha de ouro. Resultado que repete o que aconteceu no SLS 2019, quando Rayssa tinha 11 anos e ganhou as classificatórias pela primeira vez. As duas dividiram o pódio em uma dobradinha brasileira tanto na etapa de Los Angeles quanto na grande final. E foi a participação nesse torneio que garantiu a vaga das duas nas Olimpíadas de Tóquio.

A influência de Rayssa na popularização do skate já é inegável. O seu desempenho nas Olimpíadas está impactando de várias formas positivas a sociedade, seja no aumento de praticantes desse esporte ou na redução da discriminação que os skatistas sofrem. Além disso, seu sonho de criança se realizou. Entrevistada em 2015, a menina disse querer que reformassem a pista de skate de sua cidade, pois o local estava esburacado e dificultava a prática do esporte. E após todo o sucesso que Rayssa fez, a praça em que ela treinava foi reformada a fim de incentivar a formação de novos atletas. Mas sua influência vai além, e várias cidades do Brasil estão construindo áreas para o exercício do esporte ou reformando as já existentes, ajudando a difundir ainda mais o skate no país. Um conto de fadas com um final pra lá de feliz da participação da Fadinha nas Olimpíadas.