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Opinião 97

Da vilania ao heroísmo

Beatriz Santos


Heróis e vilões sempre tiveram os seus papéis bem definidos. Heróis são bondosos e vilões são cruéis, mas não é isso o que acontece em O Esquadrão Suicida. No novo filme da D.C Comics, os anti-heróis demonstram ter princípios enquanto os “heróis” mostram não ter escrúpulos e serem capazes de fazer qualquer coisa para proteger o (governo) do seu país, invertendo os papéis.

Os vilões da D.C são famosos pela sua perversidade, frieza e insanidade, mas no novo longa eles são obrigados a assumir o papel conhecido por ser dos heróis, já que se arriscar para salvar o país e vidas civis não são atitudes típicas de vilões. A missão que eles recebem de destruir um laboratório secreto da era nazista que pratica experiências em humanos é mortal e o preço em troca da ajuda desses supervilões é baixíssimo. E mesmo correndo alto risco de morrer em troca da redução de 10 anos em suas penas, que são perpétuas, esses personagens aceitam a tarefa, pois não é do feitio de vilões fazer algo sem receber nada em troca.

E apesar de assumirem o papel de anti-heróis, eles não deixam a sua vilania de lado. Em vários momentos os protagonistas ficam disputando por poder e tentando demonstrar quem é o mais mortal. Essas disputas tem relação com o fato dos vilões serem egocêntricos e dominantes. E em uma das cenas, o Tubarão-rei tenta comer uma de suas colegas de equipe enquanto ela dorme e não demonstra nenhum remorso em relação a isso, evidenciando a crueldade e a apatia tão característica dos vilões. Já que esse tipo de personagem é conhecido por matar com frieza por puro prazer e não sentir arrependimentos por isso.

Na narrativa dois personagens se destacam: a comandante Amanda Walller e o Pacificador. A primeira é uma agente do governo do alto escalão, condecorada e com uma reputação exemplar, já o segundo é um supervilão conhecido por matar muitas pessoas. Os dois personagens demonstram ter condutas semelhantes, já que o Pacificador segue o princípio de que para atingir a paz mundial ele matará homens, mulheres e até crianças se for necessário. E Waller, apesar de supostamente ser a heroína da história, mostra compactuar com os ideais de Pacificador e autoriza a chacina de milhares de pessoas apenas para proteger a reputação do governo estadunidense, o que contradiz com o papel de um herói, que é sempre altruísta e busca salvar a humanidade.

Entre as ordens de Waller para que o time voltasse para casa imediatamente e a recusa do Esquadrão Suicida em abandonar a ilha e deixá-la ser destruída, os papéis se invertem evidenciando quem realmente são os heróis e quem são os verdadeiros vilões. Enquanto a agente utiliza-se de chantagem e do assassinato de seus subordinados para controlar sua equipe, os vilões se tornam os heróis ao decidirem arriscar suas vidas para salvar todos aqueles cidadãos inocentes de serem massacrados pela fera, sem nada em troca e com a ameaça da agente de executar todos, coisa que ela poderia fazer facilmente.

E por fim, para deixar claro que não são nem heróis e nem vilões, mas anti-heróis, o esquadrão faz um acordo com Waller. Invés de revelar a verdade sobre as atrocidades que o governo americano cometia, o grupo usa esses segredos ao seu favor e chantageia a agente, que troca o seu silêncio deles por redução de pena, pois para vilões, ou anti-heróis, nada é de graça e todos os segredinhos sujos devem ser usados a seu favor.