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Ilustração: Alicia Peixoto

DIREITO DE RESPOSTA

“Quando recebi a proposta de ter minha história contada no principal jornal da faculdade foi incrível, senti minha arte e meu trabalho sendo valorizados. Inicialmente fiquei em êxtase, pois seria a primeira vez que ocuparia um espaço como este, amplificando a voz de uma minoria que muitas vezes não é representada. Abri a matéria em questão, que relata a minha história, e fiquei em choque, pois toda a primeira parte do texto me trata no masculino, no meu nome de batismo. Chorei por horas, seguida de uma crise de ansiedade. Durante a entrevista foram realizadas inúmeras perguntas, entre elas o meu nome. Eu pedia para sempre me chamarem de Afropaty. É necessário que as pessoas me tratem no feminino, pois sou uma mulher. Mesmo sendo uma mulher trans, as pessoas devem me chamar de ela. Ninguém trata mulheres cis no masculino. Peço mais atenção a esse fato, para que nunca mais ocorra, pois apesar de eu ter passabilidade, muitas pessoas trans não tem. É essencial uma atenção cuidadosa, porque me afetou de uma forma bem forte, e pode afetar outras pessoas até de forma trágica. Meu nome é Nala Delgado Arruda, tenho 23 anos, curso enfermagem na UFMS. Sou uma mulher trans”.

Nala Delgado / Afropaty

PARA ENTENDER:
Na edição 99, Nala Delgado Arruda, conhecida com o nome artístico Afropaty, foi fonte do Projétil na reportagem ”Essa mina é monstra, acha que é fácil ser preta?”, que apresenta mulheres negras no Hip Hop, e logo no início do texto foi usado o nome morto dela. As repórteres envolvidas asseguram terem perguntado como ela queria ser identificada. Afropaty ainda não tinha passado pela transição de gênero, o que acreditamos que tenha gerado o equívoco. De qualquer forma, fica o alerta, em especial, em um jornal semestral como o Projétil, com um tempo de produção que exige mais acompanhamento, checagem, principalmente em assuntos que podem mudar no decorrer da produção.

Helder Carvalho

CARTA DA REITORIA

A criação do jornal laboratório Projétil como ferramenta de expressão da prática jornalística para o curso de Jornalismo da UFMS é emblemática e significativa para o exercício da produção da notícia e para a formação dos novos profissionais para o Estado de Mato Grosso do Sul e para o nosso Brasil.

O jornalismo, se utilizado como ferramenta ética e cidadã, é basilar para a disseminação de informação de qualidade e de credibilidade, se contrapondo à proliferação de conteúdos inverídicos e falsos no mundo das fake news. Entender a construção da notícia, desde a apuração até a edição e distribuição, é condição estratégica para o jornalista, para ampliar a sua capacidade crítica de interpretação de fatos e da própria estrutura jornalística, agindo com ética, responsabilidade, compromisso social e afeto.

Em contraponto à fórmula automática de produção de conteúdos, o jornal laboratório é um espaço apropriado para desafiar a criatividade e aprofundar a legitimidade da profissão em sua essência, resgatando o orgulho de ser desse profissional que sonha em mudar o mundo por meio de reportagens que informam, denunciam e inspiram.

O Projétil, com circulação ininterrupta desde a criação do curso, é o segundo veículo mais antigo do Estado de Mato Grosso do Sul. Representa muito mais do que o esforço de professores, técnicos e estudantes do curso da UFMS, sendo o baluarte da comunicação do nosso estado, referência para os egressos da nossa Universidade e tantos outros profissionais que exercem hoje a missão de levar a informação com precisão e critérios jornalísticos, instigando o hábito da leitura, o gosto pela escrita correta e o brilho nos olhos dos nossos futuros profissionais.

Tenho o privilégio como educador, cientista e reitor da UFMS de celebrar a edição 100, rememorando a trajetória deste veículo de comunicação coordenado por tantos professores do curso de Jornalismo da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação da UFMS. Muito significativo trazer à memória e comemorar essa história, que representa também a excelente qualidade deste curso na nossa Instituição, que culminou com o avanço do conceito do curso de Mestrado em Comunicação, que nos brinda com a expectativa de aprovação do doutorado pela Capes.

Parabéns a todos que deixaram sua marca registrada nessas páginas repletas de história, aprendizagem e orgulho! Vida longa ao Projétil. Vida longa ao Jornalismo! Vida longa à nossa UFMS.

Marcelo Turine
Reitor

Prezada editora, antes dos cordiais cumprimentos, informo em minha defesa que os tempos eram outros quando o jornal laboratório do curso de Jornalismo começou a ser pensado. As músicas eram ouvidas em CDs, os filmes eram assistidos em videocassetes e as reportagens eram redigidas em máquinas datilográficas. Naquela época, talvez não fizesse tamanha diferença escolher a palavra “projétil” para nomear o nosso jornal laboratório. O professor Edson Silva alertou que se tratava de termo belicista que emprestava caráter violento à proposta, mas minha ideia acabou vencedora na precária votação entre os presentes. Numa análise em retrospecto, acho que poderíamos ter gasto mais tempo nesta etapa. Como todos sabem, projétil é qualquer objeto que possa ser lançado ou arremessado. Para nós, futuros jornalistas, seriam imagens e textos atirados para causar impacto. A questão é que, nos dias atuais, numa análise semiótica, pode significar diversas outras coisas. Por exemplo, uma bala disparada por um aluno dentro de uma escola contra os colegas… uma bala disparada por um homem contra a cabeça da mulher na frente dos filhos. Diante de uma realidade tão contundente, questiono-me: não seria este momento adequado para avaliarmos um novo nome, fruto de amplo concurso com comissão julgadora equânime e critérios claros? Por fim, meus cordiais cumprimentos a todos estudantes, professores e servidores que durante estes anos transformaram sonho em realidade, seja lá que nome tivesse.

Adriano Furtado, jornalista, propositor do nome “Projétil” para o Jornal Laboratório em 1990, egresso do curso de Jornalismo da UFMS

De forma ágil e harmoniosa, as últimas edições do Projétil trouxeram não só o exercício da notícia enquanto conteúdo, mas também um trabalho que evidencia o aspecto comunicacional da imagem. A construção da página, a escolha das ilustrações, a construção de hierarquia e direcionamento da leitura nascem da confluência entre forma e conteúdo, adicionando mais uma faceta ao trabalho do jornalista. Vejo no jornal laboratório um importante legado, que permite, por um lado, a prática profissional dos acadêmicos de jornalismo e, na outra ponta, a oportunidade para leitores diversos entrarem em contato com os assuntos tratados.

Danielly Amatte Lopes, profa de Design Gráfico da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Cheguei à UFMS em 1994. De cara, me foram atribuídas as disciplinas Redação III e Edição, que canalizavam a experiência para o Projétil. Quintas e sextas-feiras à noite, com uma turma bem mobilizada e animada. Depois, fizemos boas parcerias com Mauro Silveira e com Mário Ramires, em companhia com Márcio Licerre no Planejamento Gráfico. Sempre me preocupei em oferecer uma base teórica e uma reflexão consistente sobre a prática/práxis, pois jornal laboratório não pode se resumir a um fazer. Foram anos gloriosos para todos nós – para mim, sem dúvida.

Jorge Kanehide Ijuim, ex-docente do curso de Jornalismo da UFMS

Ah! O Projétil… Como dava prazer fazê-lo com as alunas e alunos do 5º e 6º semestre. Era um trabalho feito em equipe: acadêmicos e professores. Dizia eu: Aqui a “casa” não é contra, nem a favor! Paute, pesquise fontes pessoais e documentais; vá e escreva, não tenha medo de ser feliz! Edite e diagrame seu texto. Participe da produção gráfica e impressão, sempre que possível. O melhor é a distribuição: ir em um domingo cedinho, na esquina da Afonso Pena com a Rua 13 de Maio, por o Projétil na mão do leitor. Quem passou por tudo isso, com muita certeza, cursou jornalismo na UFMS!

José Márcio Licerre, professor aposentado do curso de Jornalismo da UFMS

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul (Sindjor-MS) parabeniza o curso de Jornalismo da UFMS, seus professores e acadêmicos, por essa edição impressa. Chegar à centésima edição não é só um grande feito, revestido de enorme simbolismo em razão da marca 100, mas representa também força, vitalidade e resistência de um projeto, ainda mais sendo impresso, em plena era digital. O jornal laboratório é de suma importância para a formação e o aprendizado dos estudantes de Jornalismo. É a parte prática do curso. É no laboratório que os acadêmicos exercitam o que aprenderam na teoria. Este marco do Projétil surge no mesmo ano (2023) em que o Sindjor-MS, principal responsável pela implantação do curso de Jornalismo da UFMS, o primeiro do estado, completa 40 anos de fundação e de lutas. Para nós, do sindicato, é motivo de júbilo. Que venham mais outras 100 edições a auxiliarem na formação de futuros profissionais de Jornalismo em nosso estado. Mais uma vez, parabéns!

Walter Gonçalves, jornalista e Presidente do Sindjor-MS

A 100ª edição do Projétil nos chega com muita alegria e nos motiva a comemorar toda crítica e resistência apresentada em seus meios ao longo dos anos, de maneira experimental, criativa, rigorosa e lúcida, fruto de esforços coletivos em uma importante prática laboratorial formativa no jornalismo. Vida longa ao Projétil!

Gustavo Rodrigues Penha, Diretor da FAALC