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Opinião 93

Estar sozinho não é tão ruim assim

Texto: Emily Bem

Há mil razões para detestar ficar sozinho, e não deveríamos acusar os caseiros de não serem bons sujeitos, estarem mal da cabeça ou com fobia de pessoas. O cara as vezes é mais quieto, introvertido, tem fobia social, não está disposto a compartilhar suas risadas e histórias. E tudo bem. Mas isso é possível? Como dizia Tom Jobim: “É impossível ser feliz sozinho.” Será? 

Bom, cada um é cada um, né. Vai da pessoa! Mas eu, por muito tempo procurei pessoas pra me fazer feliz. Não conseguia me imaginar sozinha um sábado à noite. Eu necessitava de uma companhia, e caso isso acontecesse arrumava logo uma festa pra conhecer gente. 

– Por que eu, ficar em casa, sozinha? Jamais! Isso é humilhante. 

Era como pensava.

Até que um dia, me convidaram pra ir em um festival, o Villa Mix, que normalmente ocorre ao longo de dois dias, com 24 shows, doze horas de evento, estrutura é impecável, e vai muita gente. Entrei no site, comprei meu ingresso três meses antes, arrumei carona pra ir, roupa, tudo planejado. Vários amigos iriam, e até mesmo uma namorada minha da época. Os dias se passaram, meu relacionamento acabou, perdi contato com esses amigos, e tive que ir sozinha. Pensei e repensei mil vezes se valia a pena ir. Até que fui. Fiz algumas amizades lá, mas a maior parte do tempo fiquei sozinha. E foi o melhor dia da minha vida. 

A partir daí comecei a pensar mais sobre mim. Percebi o quanto minha companhia era muito melhor do que a dos outros, que eu implorava pra ter por perto. Comecei a me conhecer e ver como era fazer certas coisas sozinha – ir no cinema, em restaurantes, shows e até mesmo festas. Sábado à noite se tornou o melhor dia pra ficar sozinha em casa, dividindo uma pizza comigo e assistindo meus desenhos preferidos. Descobri também, que gosto de silencio, músicas antigas e de conversar comigo na frente do espelho tomando um bom vinho. Dou boas risadas. 

A primeira vez que me deparei sozinha em casa, o silencio foi um caótico choque de realidade. Me senti infeliz e uma pessoa sozinha no mundo. No entanto, comecei a refletir o que seria “uma pessoa sozinha no mundo”. Inicialmente você pensa em alguém que não tem família, amigos ou qualquer indivíduo por ela. Mas cheguei à conclusão que não somos sozinhos, e sim, naquele momento, estamos. Antes de ter família ou alguém, temos que ter nós mesmos. Então porque nos sentimos sozinhos? 

E talvez essa solidão ocorra porque a maior parte da minha vida passei rodeada de pessoas e me acostumei com isso. Ou também pelo fato de que nunca vivi minha solidão. Com o tempo aprendi que isso é importante. Me conheci, fiz coisas produtivas, reconheci minhas falhas, limitações, e quebrei algumas crenças. Mas isso requer um tempo e talvez até da ajuda de psicólogos, pois o processo de aceitação interior é longo.  

Com esse mundo virtual podemos estar em todos os lugares e com várias pessoas ao mesmo tempo. Podemos escolher com quem queremos falar, o que fazemos, comemos, seguimos, rimos, compartilhamos. E temos o controle sobre essa “vida inventada”, onde todos são felizes, expressivos, sentimentais ou durões, e completamente sinceros. Então compreendo que muitos preferem se conectar nesse mundo – entrar no mundo dos filmes, stories e postagens – para não viver na solidão, não ter que conviver com a realidade. Isso seria uma fuga, querido leitor? Fica a reflexão.

Como já dizia Schopenhauer, os indivíduos são como os porcos espinhos, precisam do calor humano – sentimentos, afetos, convívio. Mas, se ficam muito juntos começam a se machucar com seus espinhos. E uma distância moderada é o suficiente para que uma convivência seja tolerada. Então querido leitor, uma hora ou outra, precisaremos de alguém, mas podemos ser felizes sozinhos e até acho importante essa experiência. Mas, é inevitável dividir a vida, o trabalho e até mesmo sorrisos com alguém. Espero que você, independente de se encontrar sozinho ou acompanhado, sinta-se muito feliz, como estou me sentido agora com minha solidão.