Texto: Giovanna Fernandes
Ilustração: Lívia Medina
A greve de técnicos e professores das Universidades e Institutos Federais, em 2024, causou uma série de transtornos aos estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Um impacto não apenas nas trajetórias acadêmicas, mas também no planejamento financeiro. Chris Wallace, estudante de medicina da UFMS no campus de Três Lagoas e Rafaela Lima, estudante de psicologia da UFMS no campus de Paranaíba, por exemplo, tiveram que suportar o fechamento dos campus desde 1º de maio, por conta da adesão à greve.
A paralisação interrompeu as atividades, principalmente, nos campus da UFMS localizados no interior do estado, como Três Lagoas, Aquidauana, Paranaíba, Coxim e Naviraí. Até 6 de junho, metade dos câmpus estava fechada. Os estudantes de outras cidades ou estados são os que enfrentam maior incerteza, pois a ausência de atividades acadêmicas, mantidas por pressões financeiras de uma vida fora de casa, pode fazer com que os alunos se desanimem.
O impacto acadêmico é múltiplo. Uma paralisação prolongada pode custar um semestre ou mais, dependendo da duração da greve. Isso, por sua vez, atrasa a formação e a entrada dos estudantes no mercado de trabalho, prejudicando os planos de carreira, a vida pessoal e principalmente o psicológico dos estudantes. Além disso, as pesquisas que são cruciais para a inovação e o desenvolvimento científico, são afetadas, prejudicando os resultados acadêmicos e até a reputação das universidades.

Em 2015, os/as docentes foram às ruas para exigir investimentos em educação e recomposição salarial. Nesse momento, a greve durou 139 dias e cerca de 50 instituições federais, incluindo universidades e institutos, ficaram paralisados. Alunas e alunos não puderam continuar seus estudos e ficaram inertes de suas aulas. No final, o governo ofereceu um reajuste de 10,5% no salário, que não atingiu nem a última solicitação grevista de 19,7%. Mesmo assim, a greve teve fim.
Apesar das lutas e da paralisação, o resultado não chegou nem perto da metade da solicitação dos sindicatos. Professoras e professores não conseguiram exatamente o que pediam e alunas e alunos foram afetados com quase cinco meses sem aulas. Muitos estudantes, especialmente aqueles que vieram de outros estados e cidades, e os estrangeiros, dependem do apoio financeiro de familiares para permanecer na faculdade e custear como aluguel, alimentação, transporte e livros didáticos.
Os contratos de aluguéis não se desfazem porque a universidade entrou em greve, esse compromisso continua mesmo que o aluno/a não esteja na residência. Não é só o custo financeiro que está em jogo, questões psicológicas, como a insegurança daqueles que estão no seu último semestre de graduação se ainda irão conseguir seu diploma até o final do ano, fora a pressão dentro de casa. Quanto mais tempo essa greve durar, mais dúvidas como essa irão aparecer.
Além disso, muitos acadêmicos que dependem de estágios remunerados ou bolsas de estudo ficam em uma posição delicada. A dúvida que grande parte dos estudantes enfrenta é sobre os auxílios e a incerteza se irão continuar com os programas de assistência estudantil. Sem contar que os custos emocionais de uma greve prolongada são enormes.
A prioridade, portanto, deveria ser encontrar uma solução para a greve o mais rapidamente possível. O Governo Federal precisa abrir um espaço de diálogo construtivo com o corpo técnico e os sindicatos docentes para resolver as questões salariais e de condições de trabalho que levam à greve.
Sabemos que são injustas e imorais as condições salariais que os docentes e técnicos passam no momento, desde 2016 sem qualquer reajuste, é uma situação que nenhum trabalhador deve passar, ainda mais aqueles que educam e formam os futuros profissionais deste país. Como nós, estudantes, ficamos no meio desta guerra entre trabalhadores do ensino e o governo? Queremos que todos os direitos sejam garantidos, mas que, principalmente, o direito constitucional à educação não seja comprometido.