Texto: Edson Silva
Ilustração: Marina Cozta
A narrativa compreende a percepção individual do jornalista, professor e pesquisador que dividiu a tarefa de formar novas/os profissionais, articulado com colegas por todo o período de existência do jornal, o que permitiu o uso de metodologias sempre mirando na formação coerente com o bom jornalismo. Nas três décadas de produção do jornal laboratório Projétil tive o privilégio e a satisfação de dividir as experiências com várias gerações de alunos e alunas e ser contemporâneo de professores e professoras como Mário M. Ramires (in memoriam); Mauro C. Silveira, José M. Licerre , Osvaldo Coimbra, Marcos R. Morandi, Lucas Reino, Marcos Paulo da Silva, Katarini G. Miguel, Sílvio C. Pereira, Mário Luiz Fernandes e Rafaella L. P. Peres.
O Projétil desde a sua primeira edição assumiu o compromisso com a realidade imediata: a cidade de Campo Grande e o estado de Mato Grosso do Sul. Os primeiros professores e professoras e todos e todas que vieram depois tinham a experiência do mercado de trabalho, na forja da lida com a reportagem de rua e do fechamento editorial, etapas exaustivas da produção jornalística e necessárias à formação de profissionais críticos.
O jornal impresso como base sólida e documental perene sempre foi lugar comum de estudantes que passaram pelo curso de Jornalismo. A partir deste raciocínio e considerando que nesses 33 anos de laboratório a UFMS já tenha diplomado cerca de mil profissionais, decorre daí a ideia de que cada um tenha produzido, pelo menos, uma narrativa, contado, no mínimo, uma história. Agrega-se a isto a compreensão de que cada graduada/o tenha um relato sobre a experiência rica e complexa do trabalho técnico e ético do fazer jornalístico.
PROJÉTIL É APELO À EXATIDÃO
O Projétil nasceu bem. O nome surgiu de exaustivas discussões entre estudantes, com a orientação dos professores. Ao mesmo tempo em que a palavra lembra projeto, contempla a ideia de processo, de algo em andamento, sujeito a ajustes, próprio do ambiente laboratorial. Lembra, também, algo contundente, que mexe com o estado de uma determinada situação, questiona, desestabiliza. É um apelo à exatidão jornalística!
Critérios pedagógicos sólidos associados à experiência profissional do corpo docente neste longo período, garantiram processos determinantes para o êxito do veículo de caráter essencialmente jornalístico. Observo os seguintes percursos:
- a garantia da liberdade criativa dos estudantes, o estímulo ao desenvolvimento do espírito crítico e a postura inerente ao trabalho jornalístico, balizado pela ética. Mais: o compromisso com o social e a resistência ao poder, qualquer que fosse ele, começando já na sala de aula na relação com os professores, passando pela universidade enquanto instituição e chegando até as autoridades constituídas. Exercício perene e necessário;
- o fazer jornalístico carece de disposição de quem o pratica. Miramos assim no estímulo da boa competição, ou seja, a busca constante da melhor notícia e dos gêneros mais complexos do jornalismo como a grande reportagem, decorrente das balizas opinativas e interpretativas. Capacidades tecidas ao longo do curso junto não apenas às disciplinas envolvidas diretamente com o Projétil, mas também com as demais que contribuem para formar o repertório de conhecimento necessário à formação profissional. Poderíamos dizer que se trata de investir em estímulos nervosos (o jornalismo do qual falamos é nervoso!), provocando tônus investigativo e narrativo, constantemente. Colocar em prática a boa ambição, a ideia icônica da busca pelo furo, pela manchete, pela capa;
- a característica laboratório determina o fazer através da experiência, da experimentação, o que demanda tempo e vagar para a absorção de todo o processo constituído por diversas etapas complexas para se chegar a um corpo final completo, anatomicamente correspondente aos efeitos de sentido almejado pela editoria: o jornal.
Assim o foi o Projétil nas suas 99 edições! Melhor, nas 100 edições! Vida longa ao Projétil!
Edson Silva é doutor em Comunicación y Periodismo, foi professor do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e do curso de Jornalismo da UFMS de 1990 a 2020, atualmente é pesquisador sócio-ambiental e jornalista na Serra da Bodoquena.