Expansão do comércio via internet
Texto: Mayara Gabrielle (brechodeixoudeser@gmail.com) | Feyth Jaques (feythjaques@hotmail.com)
Os estabelecimentos comerciais online apresentaram significativo aumento durante a pandemia. Parte do que o comércio eletrônico conquistou nesse cenário veio para ficar, conforme aponta o relatório Global Outlook 2021, da Mastercard, divulgado em janeiro deste ano.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), define comércio eletrônico como a venda ou compra de bens ou serviços, realizada em redes de computadores, sendo que o pagamento e a entrega podem ser online ou offline.

Segundo o levantamento da Mastercard, a expectativa é que de 20% a 30% das operações que migraram das lojas físicas para o meio digital durante o isolamento social permanecerão virtuais quando o surto chegar ao fim. Ainda de acordo com o relatório, os gastos com comércio eletrônico aumentaram de 10% a 16% em seu pico, em comparação com os níveis anteriores à crise.
Devido a isso, os varejistas precisaram se adaptar. Houve empresas que agilizaram as entregas e alguns estabelecimentos, em meio ao lockdown, de-ram a chance do cliente adquirir um procedimento e usar depois do crítico pe-ríodo. A ampliação do uso de redes sociais também levou a um aumento da procura pelos serviços dos Social Media e influenciadores digitais.
Angel Angelis, de 36 anos, diz que ampliou as compras via internet quando considerou a possibilidade de não precisar sair de casa durante a pandemia, para se expor a menos riscos. “A facilidade em não ter gasto com transporte público ou Uber e a correria do dia a dia me fizeram continuar comprando online, já que antes da pandemia iniciei o consumo nessa modalidade”.
Mas há quem prefira comprar presencialmente. O operador de telemarketing Diego Dias, 26 anos, optou por isso mesmo no cenário de pandemia. “Prefiro loja física porque gosto de ver o produto de perto, tocar, vestir e experimentar. Já comprei online mas tive problemas por morar em um bairro considerado perigoso em Salvador, na Bahia, e o Correios não entregar”, relata Diego.
O Projétil fez uma enquete, via Instagram, buscando saber a preferência dos internautas. Das 118 pessoas que responderam, 46% indicaram preferir lojas online, e 54% lojas físicas. A partir das respostas, entrevistamos oito consumidores que responderam ao questionário, sendo quatro de cada opção. Os que haviam indicado preferência pela compra física disseram que isso se refere basicamente a vestuário e produtos perecíveis, mas que fazem compras online em outros segmentos. Apontaram ter indicado essa opção na enquete porque não havia alternativa que incluísse as duas. “Alimentos e roupas prefiro em loja física pela possibilidade de experimentar. Artigos de papelaria e materiais diferentes dos citados anteriormente, prefiro o comodismo do online”, relata a empresária Yasmini Oliveira.

Porém, houve quem preferisse apenas compras online. Foi o caso da administradora Larissa Heydt, que relata que antes da pandemia já tinha essa preferência pela praticidade. “O receio de sair de casa intensificou essa prática. Não vou mais em lojas físicas para comprar. Até o mercado eu faço de forma online”.
Mesmo com o fim do lockdown estabelecido em Campo Grande entre 22 de março e 4 de abril, quando diversos estabelecimentos não essenciais precisaram fechar as portas, o comportamento de compra online permaneceu. “A pandemia de fato veio para trazer muitas mudanças estruturais do sistema como um todo. Na forma de se relacionar com isso, na forma da gente consumir. E com certeza, essa mudança vai continuar”, explica o economista e comerciante Leandro Luan.
Pandemia aumenta demanda por profissionais da área digital
Para alavancar as vendas online as empresas passaram a se valer mais dos serviços de gestão de mídias digitais, entrando em cena as profissões de Social Media e Influenciador. O primeiro é responsável por aproximar uma empresa de seus consumidores, por meio de produção de conteúdos de impacto voltado para as redes sociais, monitoramento diário, relatório de desempenho, relacionamento com potenciais clientes e planejamento estratégico visando aumentar a visibilidade da marca na internet. Já o influenciador digital é alguém que se destaca por meio das mídias digitais, afetando o comportamento e decisões de compras dos seus seguidores.
Wanderson Lemes, Social Media, afirma que as redes sociais são usadas para gerar engajamento para a marca, já que uma empresa que interaja diariamente com seu público tem chances maiores do cliente recomendar o produto ou serviço para sua rede de contatos. Dentre os trabalhos realizados por estes profissionais está a conexão entre a marca e influenciadores digitais.
Mas é esse último profissional quem dará voz e rosto para a campanha publicitária. Maria Alice, criadora do perfil @mariaemcg, relata que teve uma procura maior pelo seu trabalho como influenciadora no Instagram durante a pandemia. “As empresas que mais alcançam clientes são as que investem nos influenciadores. Poder ver a experiência do influencer e poder acompanhar isso dentro de casa, traz uma confiança e gera vontade de conhecer aquele serviço, através dessa indicação”, conta.
Sua demanda de trabalhos não era frequente. Com o isolamento social, toda semana ela tem novidades para apresentar aos seguidores por meio de suas divulgações, que vão de gastronomia a clínicas estéticas, tanto no feed como nos stories.
Tendo criado o perfil nas redes para compartilhar sua experiência em estabelecimentos de Campo Grande, Maria diz que seu diferencial está na sinceridade na hora de dar o feedback sobre o local divulgado. “Até para poder falar com mais autoridade, eu prefiro saber exatamente aquilo que estou mostrando”.
E credibilidade e transparência, somadas a uma comunidade fiel e engajada, proporcionam o aumento da visibilidade de empresas que migraram para o online e decidiram contratar influenciadores como Maria, aumentando suas vendas. Dados do Sebrae Acelera Digital apontam aumento significativo da contratação de influenciadores no setor de entretenimento após o início do isolamento social. Também na área de desenvolvimento de softwares houve ampliação do espaço desses profissionais, assim como junto aos aplicativos de delivery, diz o economista Leandro Luan.

Janayna Dourado sempre trabalhou com propaganda boca a boca em sua empresa do setor de alimentação, apesar de possuir contas em redes sociais desde sua criação, em 2011. “Porém não usávamos essas ferramentas com constância. Somente em meados de 2020, com as restrições e isolamento social, visualizando o comércio deserto, sem clientes entrando e saindo, é que entendi que essas mídias seriam fundamentais para interagir com nosso público-alvo e clientes”, diz Janayna. A mudança fez com que a empresa, invés de produzir folhetos impressos, passasse a criar material visual para as redes sociais e a planejar a estratégia de veiculação.
A empresária optou também por fechar parcerias com influenciadores e acredita que esse tem sido um bom investimento, pois isso tem trazido retorno positivo para sua empresa. “Conheci a Fer do @ondecomeremcg e conversando ela ficou enlouquecida para saborear os produtos”. Janayna acredita que os criadores de conteúdo fazem com que novos clientes cheguem até um determinado negócio e leva em consideração, na hora de contratá-los, se já possuem parceiros do mesmo segmento e os valores cobrados das publicidades. No caso de haver parcerias da mesma área, foge um pouco da proposta pois acredita que talvez não haja resultados se um influenciador já falava sobre uma determinada empresa e depois passa a citar outra do mesmo segmento. Diz que provavelmente não irá gerar credibilidade e o público pode ficar dividido.
Também atuando como influenciador digital Rafael Medeiros, 20 anos, conta que durante a pandemia viu seu trabalho crescer junto com as métricas do Instagram @rafaaelmedeiros_, perfil em que ele fala sobre maquiagem, moda, faz tutoriais, resenha de produtos e compartilha seu dia a dia. Sua visibilidade aumentou depois que postou uma dublagem da vencedora do Big Brother 21. A procura maior foi de fotógrafos, agências de moda, lojas de cosméticos e maquiagens. “Se antes da pandemia eu divulgava uma empresa na semana, hoje divulgo sete. Tenho que fazer cronograma e agendamento, pois do contrário fica difícil conciliar, e isso me deixa feliz”, relata.
O criador de conteúdo conta que mesmo tendo menos de 10 mil seguidores, seu alcance é alto e isso faz com que as marcas o procurem. “Tenho investido em conteúdo de qualidade, boas fotos e isso chama a atenção de potenciais parceiros que procuram na minha influência uma forma de aumentar a visibilidade dos seus negócios”.
Empresários se reinventam na pandemia e driblam a crise
Mas alguns empresários só passaram a investir no espaço online quando encontraram dificuldades. Paola Godoi, barbeira e cabeleireira de 48 anos, foi uma dessas pessoas, pois antes da pandemia seu estabelecimento não investia tanto no digital. “As dificuldades da pandemia me fizeram enxergar a força avassaladora da internet, que nos permite chegar mais rápido até às pessoas. Muito mais fácil divulgar uma promoção ou serviço em alguma rede social, pois o alcance é infinitamente maior. Obviamente não descarto o boca a boca pois as indicações de cliente para cliente me ajudam muito a conseguir meu espaço e me firmar”.

Paola também aderiu às compras pela internet. Atualmente, 80% dos produtos que usa no salão foram comprados à distância. “Mudei meus hábitos. Quase não vou mais em casas de cosméticos presenciais fazer minhas compras. Além de gastar com transporte, me exponho ao risco do coronavírus, e por ter pais idosos não posso me arriscar a esse ponto. Agora compro tudo sem sair de casa, com preços abaixo do mercado e itens de primeira linha”. Ela destaca que a pandemia lhe tirou da zona de conforto. “Antes eu não tinha esses hábitos de compras virtuais, pesquisar bem os produtos que compro, reduzir gastos, investir na divulgação online para alavancar meu negócio contratando um publicitário para cuidar das redes sociais. Precisei aprender a correr atrás para fazer tudo dar certo. Vi muitos amigos do ramo fechando seus salões”, conta.
Vânia Compan, sócia de uma boutique, conta que na semana de lockdown e toque de recolher enfatizou o delivery em suas redes sociais. “Batemos na tecla do delivery, divulgando nas nossas redes sociais, para as pessoas comprarem via WhatsApp ou Instagram, e nós levarmos as peças até elas. Isso aumentou nosso faturamento e não nos deixou desanimar. As notícias vinham a toda hora anunciando mais um lockdown, comércios fechando novamente e claro que isso assusta. Mas fui perseverante e tive que dar um pontapé inicial, para não ficar parada”, conta Vânia.
Embora o comércio online tenha aumentado, o físico continua presente e investindo no marketing digital, para atrair mais clientes para seu negócio. Em contrapartida, há quem acredite que o comércio local está com os dias contados e que o online – que pode atender tanto o local quanto à distância – prevaleça.
Para Malu Fiorini, empresária do setor de roupas, em um futuro breve serão poucos os comércios locais. “Estamos só no começo. Não tenho dúvidas que essa tendência de consumir online vai permanecer. As pessoas estão optando por ficar em casa, querem praticidade. Temos que ir no mesmo fluxo da sociedade e migrar mesmo para o digital. Não acho que seja algo de momento, mas sim para a vida toda. Se antes da pandemia, isso já vinha acontecendo, agora está cada vez mais intenso”, enfatiza.
O avanço maciço do comércio digital também pode estar ligado aos hábitos de compra. Antigamente os consumidores adaptavam seus gostos ao que as lojas ofereciam. Atualmente a lógica inverteu. Os desejos do público são voláteis e seguem em uma constante transformação, cabendo aos empreendedores acompanhá-los, já que é possível encontrar de tudo pela internet.