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Opinião 98

O que falta para o futebol do Sul?

Simoni Galassi


Como bons irmãos, o futebol de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul nasceu e cresceu em sintonia, mas há um momento na vida em que o mesmo berço não basta, cada um segue seu rumo, cria sua personalidade e faz seu destino.

Ilustração: Bianca Esquível

Após a Criação do Estado em 1977, o futebol de MS se profissionalizou, formou federação, campeonato estadual e manteve o mesmo nível de qualidade de seu estado irmão nas competições nacionais até 1986, quando a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) instituiu um novo formato do Brasileirão. Após a instituição do rebaixamento, redução do número de clubes e elitização do campeonato, cada vez menos clássicos tomavam o Estádio Universitário Pedro Pedrossian (Morenão), o que deu início à crise que o futebol sul-mato-grossense ainda pena para se desvencilhar.

Um público já pouco empolgado a ver jogos exclusivamente locais se depara com novas opções de entretenimento trazidas pela modernidade dos anos 1990. Shoppings, cinemas, televisão e, posteriormente, internet se tornam cada vez mais populares e tomam o lugar do gramado nas tardes de final de semana.

Com menos destaque nacional e menos renda a cada dia, a direção dos clubes de MS, que historicamente já se envolvia muito mais com política e jogo de poder que o ideal, passa a ser mais um empecilho para o futebol. Mandatos curtos geravam planos imediatistas, que resultavam em cada vez mais dívidas, em busca de títulos que alimentavam mais o ego de presidências que a conta bancária das equipes.

Para os “peixes pequenos”, dívidas com a União são uma rápida maneira de se perder os poucos bens que lhe restam. Clubes sociais como Comercial e Operário, com sedes que atraíam sócios pela sua estrutura, viram com a perda de patrimônio o desaparecimento de nomes na lista de títulos – hoje, ao Colorado, restam menos de 20 dos antes 2000 sócios que o clube ostentava.

Sem renda, sem investimento e nem ao menos campos para treinar, os antes gigantes da capital abriram espaço para o surgimento de novos clubes. Empresários e políticos do interior viram assim uma oportunidade de destaque nos cenários municipais ao investir no esporte local.

Com o aumento no número de clubes do interior e seus resultados mais expressivos a cada ano, o futebol estadual conseguiu fôlego para lutar novamente por destaque e buscou mudanças que vinha aumentando o rendimento de seus clubes. Um enxugamento na primeira divisão tornou a competição estadual mais competitiva e atrativa ao público, a televisão local passou a trabalhar o pré e pós jogo ao longo das semanas, mas o crescimento é tímido ainda. É preciso voltar a comparar os estados irmãos para entender o problema.

No ano de 2017, Cuiabá (MT) e Operário (MS) tiveram uma singela diferença de 4000 reais em vendas de ingressos, mas em 2021 o clube cuiabano aumentou esse rendimento de R$ 131 mil para R$ 600 mil. Oras, o Cuiabá surgiu como escolinha de base em 2001, como então em 20 anos tomou dimensões tão expressivas, com destaque na série A do Brasileirão?

A resposta que soa mais óbvia é pelo investimento. O clube foi adquirido em 2009 pelo Grupo Dresch, gigantes da borracha no MT, quando estava afastado do futebol profissional devido aos problemas financeiros. O novo viés empreendedor foi o pontapé que precisava. Como clube-empresa, o que importa para o gerenciamento é a rentabilidade do negócio, não mais o ego de mandatários que tantas vezes prejudicou clubes do Mato Grosso do Sul.

A cereja do bolo mato-grossense foi a Arena Pantanal. Após a acirrada disputa pela sede de jogos da Copa do Mundo de 2014, a inauguração da arena entregou ao povo uma opção completa de entretenimento. Um verdadeiro palco para aquilo que se espera do futebol moderno: um show.

Quem sabe o investimento maciço de empresas locais ou uma verdadeira repaginada no estádio Morenão possa ser o que falta para os clubes de MS. Provavelmente, uma combinação desses fatores seja necessária para trazer o brilho merecido de outrora. Há uma única certeza quanto ao futuro do futebol no estado: devemos nos inspirar mais em nosso estado irmão.