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Pouco mais de dois meses, foi o prazo para os estudantes de jornalismo finalizarem a 101ª edição do Projétil. Essa demanda ficou caracterizada como um trabalho em conjunto feito às pressas, “uma união de esforços”, quase um slogan de superação. Por um lado, ajudou a criar a noção de como é a prática e procura por resultados imediatos a partir das exigências do mercado de trabalho. Por outro, reforçou um dos principais estigmas relacionados à profissão: a divulgação ou a publicação de informações, sem a devida revisão e análise crítica aprofundada.

De forma atípica, devido às mudanças do currículo acadêmico de Jornalismo que tornou a disciplina de Jornal Laboratório anual com a meta de apenas uma publicação por ano, somadas às exigências para concorrer ao prêmio nacional – Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) -, houve a mobilização de várias disciplinas para viabilizar outra edição. Reportagem, Linguagem Jornalística, Visualidades Jornalísticas, Observatório de Mídia, Entrevista e Pesquisa, Edição e, Legislação e Ética Jornalística. O Projétil havia conquistado reconhecimento pelas suas virtudes nas edições 98ª e 99ª, que receberam o título de Melhor Jornal Laboratório do país, premiação regional concedida pelo Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom). E não quis parar por aí.

Alunos e alunas de diferentes semestres foram inseridos na mesma redação com funções específicas, ou nem tanto, a serem cumpridas. Para alguns, foi o primeiro contato com essa linha produtiva e a inexperiência de uns, no confronto com o conhecimento de outros, originou uma obra de qualidade ambígua. A dinâmica de edição, que determinava escolhas motivadas pelo direcionamento da função, como revisão e finalização textual, acabou por desagradar alguns redatores, que por certas vezes, não foram consultados sobre essas decisões.

Quanto às suas características, a 101ª edição é marcada pelo uso do gerúndio a cada página virada e alguns erros de concordância gramatical, além do uso constante de termos específicos sem explicação ante ou posterior. “Todo Dia é Dia de Exu”, a reportagem de capa, foi um dos únicos textos que se preocuparam em apresentar glossário para os leitores. Os títulos se mostram adequados quanto às suas funções e as legendas são complementares.

No que se refere à sua apresentação, o uso de cores contrastantes para diferenciar as edições seguiu o padrão editorial da identidade visual do jornal, mas o mesmo não foi percebido na composição das ilustrações, que trouxeram despadronização em cores vívidas, fortes e neutras, além de, diferentes traços e estilos que acarretaram em caos informativo. Na reportagem Preconceito no sangue, a temática séria por pouco não perdeu sentido e se tornou infantilizada pelo uso dos elementos extras decorativos; que também abriram espaço para a interpretação oposta e não condizente, sugestiva de automutilação com os riscos vermelhos.

Outra questão, foi o pouco investimento no fotojornalismo, devido ao jornal ter sido montado a partir de reportagens já concluídas. A dificuldade para novas captações de imagens, deram lugar à ilustrações, colagens ou infografias, interessantes, mas excessivas. Não houve modelo a ser seguido nas fotos, por exemplo, umas estão coloridas e outras, estão em preto e branco, sem motivo aparente de significância.

Uma nova fase do jornal veio pela 101°; ansiosa e apressada e o que poderia ser a solução, levantou um dilema ético-pedagógico. Se a produção permanecer nessas configurações, isso pode prejudicar a função logística do jornal. A edição 100 mostrou a dedicação do corpo docente e discente, e evidenciou uma história de progressos e de práticas jornalísticas que foram aperfeiçoadas, o que não aconteceu na 101. Ainda assim, todo o trabalho foi válido para perceber que, para obter uma produtividade cada vez melhor, é preciso respeitar o tempo de reflexão e organização que são cabíveis a essa proposta experimental, e aceitar as críticas na busca pela qualidade. A solução então é desacelerar e continuar, pois o Projétil não para.