Texto: Murilo Medeiros | Pietra Dorneles | Sandy Ruiz
Ilustração: Eliel Dias
Com as mudanças na matriz curricular do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), a disciplina de Jornal Laboratório que era ofertada em dois semestres, fica em apenas um. A primeira questão é “por que?”. O Projétil é uma das oportunidades mais interessantes de experimentação do curso. Tirar uma disciplina é tirar também a chance dos alunos e alunas produzirem mais, com mais tempo e liberdade.
Manter a produtividade com menos tempo tornou-se um desafio. Produzir apenas uma edição de Projétil por ano não era uma opção. Logo nas primeiras aulas, foi discutida a possibilidade de fazer edições reduzidas, mas também não. Conseguiu-se manter o padrão do jornal: duas edições com 40 páginas cada. Precisamos admitir que o resultado final tem qualidade, mesmo com o processo de produção acelerado. Mas a que custo? O conteúdo seria mais aprofundado e melhor desenvolvido se houvesse mais tempo? A apuração poderia ser mais criteriosa e cuidadosa? São preocupações, especialmente pedagógicas, que devem ficar para as próximas edições.
O Projétil 102 traz a temática “liberdade”. As reportagens e os textos opinativos trabalham muito bem esse tema, em vários níveis e realidades diferentes. Inclusive, essa discussão pode ser vista já na capa do jornal. A foto de capa foi manipulada para estendê-la e acrescentar pichações em um muro, com palavras relacionadas à temática. A escolha de utilizar uma imagem manipulada para estampar o jornal traz uma pergunta importante. “Até onde um/a jornalista pode ir sem ultrapassar os limites éticos da profissão?”. O expediente avisa que a foto foi modificada, mas não destaca, nem diz qual foi a alteração, isso pode ter confundido os leitores e as leitoras. Voltamos à questão feita no primeiro parágrafo. “Por que?”. Havia necessidade de adicionar itens à imagem original? Nesse caso, as manipulações podem ter feito sentido e não foram tão drásticas, mas alterar imagens abre um precedente perigoso.

Apesar dessa questão, a edição 102 optou por valorizar mais as fotografias, o que traz uma relevância maior ao fotojornalismo e fazia falta em versões anteriores. Nas últimas dez edições, a capa e os textos opinativos do Projétil foram ilustrados por alunos e alunas do Projeto de Extensão “Pensar o desenho” do curso de Artes Visuais da UFMS, agora o jornal é completamente produzido por estudantes de Jornalismo. Isso também pode ser visto como um avanço.
O caderno especial, contudo, deixa a desejar nesse quesito. O texto já é denso, e a leitura fica ainda mais pesada devido à falta de imagens, o que contrasta com o restante do jornal. A justificativa para a pouca quantidade de fotos pode ser a dificuldade de conseguir arquivos com qualidade suficiente para a impressão. De qualquer forma, houve uma tentativa de compensar com outros elementos visuais.
Há falhas de revisão textual ao longo de toda edição. Falta (ou excesso) de vírgulas, falta de crédito nas partes destacadas de reportagens, erros de concordância e informações contraditórias ou imprecisas também são encontrados. No próprio Ombudswoman, por exemplo, há uma confusão quanto à Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom). Um dos parágrafos começa dizendo que ela é uma premiação nacional, mas termina afirmando que o jornal recebeu o título na etapa regional. Na verdade, o Projétil foi tricampeão tanto da etapa regional, quanto da nacional de 2021 a 2023, mas perdeu em 2024 com as edições 100 e 101, algo até agora incompreendido.
Este é um jornal laboratório. Nesse ambiente, errar é permitido porque assim se aprende. De modo geral, a edição 102 do Projétil é adequada e não tem grandes defeitos, o que, confessamos, dificultou o trabalho desta equipe de Ombudswoman. Para a próxima turma, já adiantamos que a tarefa será mais fácil. A edição 103 nasce da hipocrisia de produzir um jornal sobre a greve das instituições federais de ensino, em uma disciplina de um curso que não aderiu ao movimento. Por outro lado, o jornal pode ter sido um importante instrumento de resistência, como uma alternativa para dar força à greve, mesmo que de fora dela. Deixamos essa provocação a quem for analisar este jornal e a você leitor.
Boa sorte!