Texto: Lynara Ojeda
Ilustração: Rodrigs
“Eu não caí na Universidade Pública. Ela me levantou, me abraçou, me ensinou sonhos coletivos e me mudou para sempre”. Há um tempo me deparei com essa frase (não consegui localizar a autoria) que imediatamente me levou para o corredor central da minha querida UFMS. Fui aluna do curso de – quando ainda era – Comunicação Social com habilitação em Jornalismo entre 2005 e 2008 e ali vivi alguns dos anos de maior aprendizado da minha vida.
Não exagero ao escrever isso, só constato as marcas das experiências que ainda carrego em minha memória, no meu olhar e pensar o mundo, o Outro e, sobretudo, o jornalismo. Tudo me acompanha: as poucas salas que tínhamos que dividir com o Curso de Letras, o número reduzido de professores efetivos, a precariedade de equipamentos, as idas e vindas permeadas pelo medo da insegurança do campus durante a noite, porque nosso Curso ainda era noturno, as amigas e amigos que seguiram comigo ao longo desses 18 anos e dividem as lembranças do que foi viver a universidade plenamente.
A minha grande expectativa, assim como a maioria das/os minhas/meus colegas, era chegar logo ao terceiro ano para passar pelas disciplinas de laboratório, principalmente o Projétil. Eu vivia todo aquele encantamento pelo jornalismo impresso, a vontade de entrevistar e escrever uma reportagem que ganhasse um belo espaço na página. Quando, enfim, cheguei nessa fase, sob orientação dos professores Jorge Ijuim e Márcio Licerre, escolhi uma pauta que abordava direitos humanos de crianças e adolescentes sem esperar que esse se transformaria depois no “Verbos Libertos – relatos de abusos sexuais” livro-reportagem que fiz em 2008 como TCC, no meu trabalho na Escola de Conselhos e, ainda, na minha pesquisa de mestrado e doutorado.

Sim, foi escrevendo uma reportagem para o Projétil que dei os primeiros passos de uma jornada que vivo até hoje. Lá em 2007 eu quis construir uma reportagem sobre abuso sexual cometido contra crianças e adolescentes, um tema extremamente áspero e delicado que me exigiu jogo de cintura para encontrar fontes dispostas a dar entrevistas sobre dores tão íntimas, organização para buscar documentos e compreender legislações, perceber as nuances e complexidades de uma violência ancorada em bases tão profundas e estruturantes de nossa socidade: o machismo, a objetificação de corpos entendidos como frágeis e a coisificação de crianças. E, ainda, mobilizar toda a sensibilidade necessária para contar histórias que me doeram ouvir. Como fruto desse processo nasceu a reportagem “Crianças, luz das nossas vidas”, na edição de agosto de 2007.
Hoje enxergo o tamanho do desafio e como o Curso e professores apoiaram nossas ideias, isso aconteceu e ainda acontece, porque entendo que a maior característica do Jornalismo da UFMS é a preocupação em formar jornalistas atentas/os e comprometidas/os com os interesses da sociedade. Há um exercício de preparar profissionais que entendam a função dessa atividade que pode exercer papel fundamental em uma democracia, defender direitos e lutar pela cidadania da população.
Em 2016, voltei a ser aluna na UFMS e como mestranda escolhi a relação entre Jornalismo e Direitos Humanos como objeto de estudo. E a temática que envolve a cobertura jornalística sobre direitos infanto-juvenis segue me acompanhando agora no doutorado. Meu orientador aqui no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina é o professor Jorge Ijuim, o mesmo que guiou meus primeiros passos quando escolhi olhar e falar sobre a defesa de crianças e adolescentes e me lembra todos os dias do lugar que fez de mim a jornalista e pesquisadora que sou. Por isso, sem a menor dúvida, posso afirmar que o Curso de Jornalismo da UFMS me levantou, me abraçou, me ensinou sonhos coletivos e o Projétil me mudou para sempre!
Lynara Ojeda é jornalista formada no curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela UFMS em 2008, atualmente é doutoranda em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).