Escrever sobre uma pauta factual num jornal laboratório com processo de produção longo era um risco considerável. Mobilizar dezenas de alunas/os para uma pauta que poderia evaporar, no primeiro acordo coletivo firmado, foi o tema desafiador proposto para o Projétil 103.
O fiel da balança pendia de um lado para o outro, já que a greve de técnicos e professores interfere diretamente na formação dos acadêmicos/as da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), mas atinge a sociedade apenas indiretamente e poderia se tornar um tema obsoleto a qualquer momento. Outra coisa importante, o curso de Jornalismo escreve para si ou para o mundo? Se o curso de Jornalismo não falar sobre os problemas que inviabilizam o chão de fábrica da educação, quem falará?
Esta edição decidiu escancarar o problema e assumir a complexa missão. Na onda dos servidores públicos, os estudantes se mobilizaram para fazer uma greve estudantil de forma precipitada e atrapalhada, sem negociações prévias e diretrizes do que realmente desejavam, não houve grande adesão. “Oportunismo? Antes fosse” passeia pela análise de dados das votações democráticas dos Centros Acadêmicos, que nem de longe representam a totalidade de alunas e alunos.

A cobertura factual, “É grave. É greve!”, foi um diferencial e mostra a movimentação na universidade durante este período. O protesto de grevistas na capital federal oportunizou o “Diário de bordo” sobre uma longa viagem de ônibus. Um retrato da dicotomia entre quem apoia e quem rejeita a posição do governo federal na demora por propor acordo que desse cabo à greve. Em palestra logo no início da greve, Leonardo Sakamoto caminha pelas bordas desse tema que preenche um barril de pólvora, numa perspectiva externa e diferente da que permeia quem vive a realidade dentro dos muros da UFMS.
O perfil das e dos grevistas é analisado em reportagens que mantém a profundidade alcançada sobre essa pauta que dividiu a opinião, principalmente, de professoras, professores e alunas e alunos referente à adesão ao movimento paredista.
A falta de unicidade dos grevistas e dos discentes, a ausência de percepção de representatividade dos líderes sindicais pelo corpo docente e discente e a greve que se arrastou por meses contra decisões de um governante forjado nas grandes paralisações do ABC Paulista, são controvérsias que dão fôlego ao debate travado nesta edição.
O próprio Projétil tornou-se também alvo de debates e controvérsias na edição 103. Como fazer um jornal sobre a greve em um curso que não aderiu ao movimento? Percebemos a aparente hipocrisia, mas isso resultou na oportunidade dos alunos e alunas aprenderem mais sobre os movimentos paredistas e as lutas do movimento sindical e estudantil. Alguns dados, fontes e textos se repetem ao longo da edição, o que pode tornar a leitura densa em alguns momentos. A temática e os personagens são os mesmos, então é natural que isso aconteça.
Assim, o Projétil contribuiu com a greve como pôde: ampliou o debate, serviu de plataforma para discursos, sobretudo, foi pedagógico para os/as acadêmicos/as de jornalismo que organizaram esta edição.
Boa leitura!