Texto: Veruska Donato
Comecei esse texto uma, duas, três vezes, na quarta tentativa eu disse a mim mesma:
– Basta!
Ainda pareço a mesma estudante de 30 anos atrás, insegura, nervosa, inexperiente… Nunca fui do texto impresso. Adoro um textinho enxuto. Pontuado. Amo as barras no final do ponto. Não vivo sem um clichê: né, pois é, então, prá, foi assim… Irresistível! Tenho que me policiar se não acabo chamando as imagens:
– Mostra aí …
A verdade é que quando entrei na faculdade queria muito ser repórter do Estadão, ou da Gazeta Mercantil, eram jornais de gente que lia muito, opinava muito. Eles tinham aquelas explicações imensas sobre economia, tratados internacionais, acordos entre políticos, decisão judicial, mas a TV me garfou. Fui prá um teste de vídeo em 1992, e não voltei. A quase repórter do jornal impresso ficou recalcada em mim, talvez venha daí a dificuldade em escrever. Fico pensando que serei julgada, testada, rotulada igual produto na prateleira.
– Essa não serve!
– Ih! Tá vencida…
Só não vence mesmo essa minha timidez das letras que vão ficar escritas pra todo mundo ver.
– Alguém aí pode ‘desver’?
O projétil era o meu Estadão, dava um frio na barriga quando o professor Eron Brum olhava prá gente e perguntava:
– Vai escrever sobre o quê?
E o medo de falar besteira? Parecia que todo mundo na minha turma sabia escrever, menos eu.
A pauta sobre o grupo Acaba surgiu durante a discussão do Projétil, foi o próprio Eron quem sugeriu escrever sobre o grupo que completava 20 anos em 1991. Abracei a ideia. Fácil não foi. O Projétil era um jornal jovem, ninguém tinha ouvido falar muito. Vou confessar também que nunca tive muito amor pela pauta. Sou repórter, nasci repórter, mas produzir, ligar, marcar entrevista, não é das tarefas que eu gosto, mas na faculdade era assim, a gente fazia tudo. Consegui conversar com apenas um dos integrantes do grupo, o Moacir Lacerda, num intervalo de uma apresentação no Sesc. Eu tremia. A voz mal saia da garganta, quem dirá da boca… Me sentia inadequada.

– Onde botar as mãos, o gravador? Anoto no papel ?
Não vou esconder que meu começo como jornalista foi difícil. Não tinha vontade de falar ao mundo, o mundo era um lugar grande demais, tava de bom tamanho ser ouvida na minha rua. Para minha sorte, meu entrevistado era generoso, um dos melhores que já entrevistei. Ele entendeu meu nervosismo, me deixou à vontade. Com ele aprendi a nunca esconder minhas emoções numa reportagem. Se não entendo do assunto que eu vou falar com o entrevistado, eu digo. Se acho que o entrevistado tá me enrolando, eu digo também. Aprendi ali naquele primeiro dia do resto da minha vida de jornalista que emoções são importantes para qualquer jornalista.
E é com emoção que li minha primeira reportagem da vida, recentemente. Obrigada turma de agora do Jornalismo da UFMS.
– Foi um presente!
O grupo Acaba completou 50 anos de carreira. Eu cheguei aos 31 anos de jornalismo. Não vou dizer aqui que há alguma semelhança entre nós porque não há mesmo. São apenas palavras. Um jeito maroto de contar uma história.

Veruska Donato é jornalista formada na turma de 1994 do curso de Comunicação Social habilitação em Jornalismo da UFMS, e atualmente é apresentadora da TV MS.