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Opinião 97

A emocionante final da Libertadores 2019

João Pedro dos Santos


23 de novembro de 2019. Flamengo e River Plate estão prontos para começar a primeira final com jogo único da Taça Libertadores da América, principal competição entre times da América do Sul. O palco desse espetáculo é o estádio Monumental, localizado em Lima, no Peru. Essa é a partida mais importante do rubro-negro nos últimos 38 anos. Seu primeiro e único título da competição foi conquistado em 1981, com um time fantástico comandado por Zico e Júnior.

Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2019. Os jogadores do Flamengo chegam ao centro do Rio de Janeiro, dando início à festa de consagração pelo título da Taça Libertadores da América – Foto: Alexandre Vifdal / CRF / FotosPublicas

Toda equipe sul-americana sonha em alcançar a ‘Glória Eterna’. Com o Flamengo não era diferente. Mas, tinha pela frente um grande adversário, o campeão da competição em 2018, o River Plate, da Argentina. Os ‘millonarios’ são tetracampeões da Libertadores e venceram duas vezes recentemente, em 2015 e 2018. Além disso, ambas foram com o mesmo técnico, o brilhante Marcelo Gallardo. ‘El Muñeco’ (o boneco) como é conhecido, sabe como poucos o caminho para levantar a taça tão cobiçada, pois já conquistou-a três vezes – uma como jogador e duas como treinador -, todas pelo River.

O jogo começa. Os dez primeiros minutos são todo do time carioca, que mantém a bola sob seu domínio, como se acostumou a jogar com o técnico português Jorge Jesus.

Aos 13 minutos: o drama. Filipe Luís erra a saída de bola e os millonarios agem rápido. Nacho Fernández cruza rasteiro, Willian Arão e Gerson ficam indecisos e a ‘pelota’ sobra no pé direito do goleador colombiano Rafael Santos Borré. Duro golpe nos rubro-negros. Festa argentina em Lima.

A partir daí o Flamengo já não se parece mais com aquele que atropelou vários times ao longo da temporada. O gol do River foi uma ducha de água fria para os jogadores. Que tensos, passam a errar tudo. Gabriel Barbosa, a esperança de gols, fica apagado e pouco faz.

Com 30 minutos, o jogo já tem 11 faltas, típica decisão ‘pegada’, dura. Ninguém dá nada de graça. Aos 36, Palacios, jogador do River, chuta com perigo ao gol de Diego Alves, goleiro do Flamengo, e arrepia a maior torcida do Brasil. Um primeiro tempo sem muitas emoções, mas a cara do jogo mudaria no segundo tempo… e como mudaria.

Com 11 minutos da segunda etapa, Gabigol toca para Bruno Henrique que, sozinho, cruza por baixo na área. A bola volta para Gabriel que chuta em direção ao gol. Ela explode na defesa, e sobra para Everton Ribeiro chutar forte, mas o goleiro Armani opera um milagre. O Flamengo volta mais confiante.

A final também ficou marcada pela entrada do capitão Diego Ribas, que havia fraturado o tornozelo em julho. Com empenho, ele conseguiu voltar em tempo recorde para a decisão e mudar completamente a história do jogo. Sai Gerson, entra Diego com a camisa 10, a mesma que consagrou o galinho Zico em 1981.

A torcida Rubro-Negra mostra apoio incondicional nos 90 minutos, puxa a famosa canção que relembra o título intercontinental conquistado em 1981. ‘Em dezembro de 81 / Botou os ingleses na roda / 3 a 0 no Liverpool / Ficou marcado na história / E no Rio não tem outro igual / Só o Flamengo é campeão mundial / E agora seu povo pede o mundo de novo / Dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe mengo / Pra cima deles Flamengo’’

Quase no final do jogo, aos 43 minutos do segundo tempo, ressurge a esperança. Lucas Pratto, atacante do River, perde a bola para Arrascaeta. Bruno Henrique recebe pela esquerda, dribla um, chama quatro jogadores para marcação e descola um passe mágico para Arrasca. O uruguaio, quase caindo, consegue tocar para Gabigol debaixo da trave. Flamengo 1×1 River Plate. Explode a nação no Monumental. O sonho ainda estava vivo.

A placa dos acréscimos marcava quatro minutos, mas bastou apenas um para que a América do Sul fosse pintada de vermelho e preto. Aos 46 minutos e 17 segundos, Diego lança a bola em direção ao ataque. O zagueiro Pinola, que havia anulado Gabigol durante boa parte do jogo, tenta cortar de cabeça, mas acaba ajeitando para o artilheiro. Gabriel Barbosa, o ‘Predestinado’, fuzilou o gol de Armani com sua potente perna esquerda e, a partir daquele momento, cravou seu nome como um dos maiores ídolos do Clube de Regatas do Flamengo.

Toda aquela aflição de não conquistar a Libertadores há 38 anos, toda frustração ao ver o time ser eliminado inúmeras vezes precocemente na competição, acabou. Bastaram três minutos de desatenção dos ‘hermanos’ para o sonho se tornar realidade. O Flamengo era bicampeão da América, com direito a virada nos últimos minutos.